Sábado, 27 Abril

«Sei Lá» por Nuno Miguel Pereira

Em 1992 saiu uma curta-metragem chamada Gay Niggers from Outer Space. A história falava de um grupo de negros gays intergalácticos que tinham como missão salvar o mundo das mulheres. Após a visualização de Sei Lá, a conclusão a que se chega é que falharam, pelo menos no que diz respeito a uma classe de mulheres estereotipadas que este filme quis representar e que não faz jus à profundidade do sexo feminino.

Em Sei Lá – baseado no livro homónimo de Margarida Rebelo Pinto – a única coisa que é pior que a futilidade é o número de vezes em que se repete a expressão Sei lá (como se já não soubéssemos o nome do filme).

A história centra-se num grupo de quatro amigas: Madalena (Leonor Seixas), Mariana (Patrícia Bull), Luísa (Ana Rita Clara) e Catarina (Gabriela Barros). Este grupo magnífico é do mais genérico e frívolo que se possa imaginar (desde a artística romântica, passando pela casada, a maltratada e a devoradora de homens). Dentro da sua dinâmica podemos observar os relatos sobre as suas experiências, amores e desamores. No entanto, o ênfase da história é dado à personagem Madalena, que narra o filme. No meio disto tudo surgem os homens e aqui também temos direito a generalidades. Desde o “sacana” engatatão – o Pedro Granger – passando pelo misterioso e apaixonado – António Pedro Cerdeira.

Porém, pior que a construção dos personagens, são as palavras que saem das suas bocas. Ouvir António Pedro Cerdeira dizer “Eu não mordo, eu engulo” é qualquer coisa de bradar aos céus e pedir perdão por todos os pecados que nos levaram a ser castigados com este filme.

Ainda há espaço para dizer mal da banda sonora, quase sempre aleatória e anti-climática. Nesse aspeto, a música “Slave to Love” deve ter passado umas três vezes durante as sofríveis quase duas horas (pareceram anos) da obra.

No meio de tanta coisa infeliz – e sem fazer qualquer julgamento de valor sobre o livro, mas apenas sobre o filme – sobra ainda tempo para algo completamente diferente: Um elogio. Rita Pereira, que tem um pequeno papel, consegue encher o ecrã com a sua interpretação de “Bimba da Margem Sul” (parafraseando Madalena). A verdade é que os únicos momentos de genuína graça e de bom acting são oferecidos pela menina Rita, só é pena ela não ter muita relevância para a história.

O melhor: Rita Pereira.
O pior: A trama é ridícula e “ridículo” é uma palavra que se aplicaria a todos os aspetos do filme que não englobem a personagem da Rita Pereira.


Nuno Miguel Pereira
(crítica originalmente escrita em março de 2014)

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