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«All Is Lost» (Quando tudo está perdido) por Nuno Miguel Pereira

Quando os irmãos Lumière começaram a fazer cinema, filmando situações do quotidiano – como, por exemplo, operários no seu posto de trabalho, não imaginariam que, mais de 115 anos depois, alguém voltasse a fazer alguma semelhante. Desta vez tivemos direito a uma hora e trinta minutos de um homem (Robert Redford) e o seu barco. Problema: o barco encontrava-se à deriva, sem comunicação, pois o rádio estava avariado e com o casco furado por um contentor de sapatos, que andava à deriva. Os diálogos resumem-se a “Fuck” e a “Fuck, Fuck, Fuck“. Não existem grandes efeitos especiais, apenas uma cinematografia muito bem conseguida e uma história que andou à deriva, à semelhança do barco.

O ponto fascinante desta situação é que o enredo, apesar de aparentemente monótono e sem diálogos – nem mesmo monólogos – consegue deixar quem vê a antecipar cenários, a acompanhar o sofrimento deste náufrago.

Dificilmente percebemos onde o filme quer chegar, nem sabemos se vamos a meio, inicio, ou prestes a chegar ao fim. Somos presenteados com uma hora e trinta minutos de voyeurismo puro sobre a temática preferida de cada um dos nossos vizinhos: o sofrimento dos outros.

Robert Redford está arrebatador, num papel que exige muita contenção e onde cair no erro do overacting seria fácil (e até lhe poderia valer uma nomeação para o oscar). Felizmente, optou por ser fiel àquilo que o papel lhe pedia.

A banda sonora é o barulho do mar em fundo e não poderia ter melhor resultado. Aliás, todos os efeitos sonoros são de um realismo fascinante (talvez com direito a oscar).

O que falha acaba por ser o facto de, por vezes, como não sabemos onde o “mar” nos leva, sentimo-nos frustrados e cansados. No entanto, isso sucede por pouco tempo, pois, obviamente, J.C. Chandor, não iria realizar um filme em que o mar estivesse calmo o tempo todo. Essa agitação marítima – juntamente com os belos planos deste realizador – deram alguma vivacidade a uma obra potencialmente linear.

Contenção é a melhor palavra para descrever Quando Tudo Está Perdido. Despretensioso na forma contemplativa como foi filmado e realista durante todos os seus 90 minutos, a obra nunca empolga demasiado, nem dececiona a pique, mantendo-nos expectantes, a procurar saber mais e mais, e culminando com um final tão fugaz e sem preparação que se poderá tornar difícil de digerir instantaneamente.

O melhor: Todo o elenco é excecional (sendo única e exclusivamente composto por Robert Redford). A contenção e simplicidade criaram um filme complexo e com muita substância.

O pior: Por vezes perdemo-nos no decorrer do filme, por não saber onde ele quer chegar.


Nuno Miguel Pereira