Quinta-feira, 25 Abril

«The Counselor» (O Conselheiro) por Hugo Gomes

Se até aqui sabíamos com toda a certeza de que Ridley Scott nunca fora um autor sólido e estável, já que os seus trabalhos variavam entre o medíocre e o excepcional, com a sua nova peça, O Conselheiro, chegamos a temer pelo seu profissionalismo e sanidade artística.

Atribuir a culpa somente ao realizador é pura infantilidade, porque na verdade esta é uma obra falhada aos diversos níveis, onde até os diálogos da autoria do escritor Cormac McCarthy (The Road) são de uma surrealidade anormal. São personagens descartáveis, outras sem sentido de existência, interpretações em overacting que mesmo esforçadas (o exemplo de Michael Fassbender, que equivocadamente viu aqui potencial para o Óscar) nada servem face a uma construção débil de uma narrativa retardada e com fixações para futilidades. A direção do próprio Scott tem dias, ora é dinâmica, ora é digna das piores novelas mexicanas, aliás é nessa caracterização de “telenovela” que este O Conselheiro faz todo o sentido.

Não se sabe ao certo o objetivo disto tudo, mas sabe-se que um elenco de luxo de causar inveja a qualquer outra produção é arrastada para o “fundo do pântano” e literalmente dilacerados no desperdício.

Vai ser difícil para Ridley Scott, o mesmo realizador do emblemático road-trip feminista Thelma & Louise, ou das suas incontornáveis incursões de ficção cientifica, Alien e Blade Runner, conseguir realmente recuperar deste seu “borrão” dramático. Eis um filme oco, pouco coeso, forçado e detentor de alguns dos piores diálogos e timings do ano. Tendo em conta o desastroso resultado de O Conselheiro, tenho a certeza absoluta de que ainda irão apontar a culpa ao excêntrico penteado de Javier Bardem. Acredito piamente que sim.

O melhor – Michael Fassbender tenta fazer-se ao Óscar (escusadamente!)
O pior – Ridley Scott a realizar uma telenovela mexicana e a utilizar os terríveis diálogos de Cormac McCarthy em cena.


Hugo Gomes

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