Sexta-feira, 19 Abril

«Prisoners» (Raptadas) por André Gonçalves

Em Prisoners, toda a gente se encontra em cativeiro, e por isso o título português Raptadas destrói toda a ambiguidade fascinante do título do primeiro filme de Hollywood de Denis Villeneuve, responsável por um dos melhores filmes dos últimos anos com Incendies – A Mulher Que Canta.

Prisoners não chega a esse patamar de obra-prima, mas enquanto primeira encomenda comercial, o espectador dificilmente conseguirá melhor… A história começa de uma forma muito simples, de uma maneira que já vimos muitas vezes: duas crianças de duas famílias amigas desaparecem no mesmo dia, e as suspeitas recaem numa caravana, onde é encontrado um jovem adulto socialmente inapto (Paul Dano, que nasceu para fazer estes papéis). O filme dá a primeira volta (e o que revelo aqui é apresentado no trailer) com o pai de uma das famílias (um por vezes irritante Hugh Jackman) a querer fazer justiça pelas próprias mãos e a raptar o suspeito, crente que os esforços do detetive encarregue pelo caso (Jake Gyllenhaal, também a encaixar bem no papel) não sejam suficientes.

O que se segue é uma trama que prima tanto pela ambiguidade moral como pela sobriedade absoluta, remetendo incontornavelmente a outros thrillers sóbrios como O Silêncio dos Inocentes. Villeneuve consegue fazer muitíssimo bem a gestão da narrativa que tem aqui – são duas horas e meia que passam a voar, e e onde qualquer “subplot” aparentemente desconexo encontra justificação no final, sem que haja necessidade de uma explicação muito longa. Ainda assim, há detalhes que o espectador pode apanhar mais depressa que o detetive, propositadamente ou não (a questão das peças de roupa ensanguentadas, por exemplo).

Prisoners prima também, e esperemos que Villeneuve não perca essa capacidade com esta absorção pelas máquinas comerciais, por um final que se recusa a completar o labirinto que tão bem montou. E por isso e por tudo o resto, temos aqui uma estreia mais que promissora no circuito mainstream de um dos realizadores-maravilha da última década. Que venha Enemy, rápido.

O melhor: A alta engenharia do labirinto que foi aqui montado, guiada de uma forma virtualmente perfeita por Villeneuve.
O pior: Algum “overacting“.


André Gonçalves

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