Sexta-feira, 29 Março

«Au bout du conte» (E Viveram Felizes para Sempre…?) por Roni Nunes

O título vem dos contos de fada, nesta história onde belas adormecidas, cinderelas (versão masculina) e capuchinhos vermelhos permeiam as intrincadas ligações afetivas, sexuais ou de amizade de uma vasta galeria de personagens. A história foi escrita pela também realizadora Agnès Jaoui (famosa internacionalmente por O Gosto dos Outros) e pelo seu parceiro habitual, Jean-Pierre Bacri – ambos a atuarem no filme.

O filme começa com um sonho de Laura (Agathe Bonitzer) onde ela encontra o seu príncipe encantado. Já no mundo real, conhece um jovem com quem dança numa festa, mas a fugir dela, ele deixa para trás o seu sapato. Tudo parece compor-se quando ela descobre que o calçado pertence ao músico gago Sandro (Arthur Dupont), que lhe retribui a paixão. Mas nem tudo é tão simples como nas fábulas e numa floresta de caminhos bifurcados a capuchinho vermelho Laura vai conhecer o lobo mau. Ele chama-se Maxime (Benjamim Biolay) e, tal como no conto, com ardis suficientes para atrair a inocente menina…

O grande foco da história é a relação entre os personagens e os acontecimentos não racionais que se entrelaçam com a sua vida. Entre eles, há o sisudo e ateu Pierre (Bacri), subitamente obcecado pela data da sua morte conforme informada por uma vidente, até a atriz diletante e professora de teatro para crianças, a doce Marianne (Jaoui) que, pelo contrário, “acredita em tudo o que faz bem”. Diante das vicissitudes, todos lidam, de uma forma ou outra, com a crença em algum tipo de solução não palpável.

E Viveram Felizes para Sempre…? traz o que há de melhor na comédia francesa. Para além de muito engraçado, demonstra a capacidade de Jaoui em equilibrar com sensibilidade e inteligência uma quantidade enorme de personagens, construídos com profundidade e nada caricaturais. Alguns momentos são hilários, como a cena em que o “lobo mau” acorda a “bela adormecida” de uma grande bebedeira.

No final torna-se difícil fechar todos os ciclos sem ser artificial – e essa é a razão porque ficaram por lá pontas soltas e algumas situações demasiado forçadas. Mas até chegar aí, o filme é imperdível.

O Melhor: engraçado, inteligente e muito bem realizado
O Pior: o final, com conclusões algo forçadas ou inexistentes


Roni Nunes

Notícias