Sexta-feira, 26 Abril

«Les Saveurs du Palais» (Haute Cuisine – Os sabores do Palácio) por Hugo Gomes

Em 1988, a cozinheira rural Danièle Delpeuch foi abordada por funcionários do governo francês que estabeleceram-lhe uma proposta “irrecusável”. Ela estaria pronta a abandonar tudo para seguir como cozinheira pessoal do Presidente François Mitterrand durante o seu segundo mandato. O chefe máximo do governo francês exigia uma cozinha tradicional e do interior, de maneira a invocar memórias do seu passado familiar e contornar a comida mais elitista à qual teria sido submetido no primeiro mandato.

Baseado na história verídica, Christian Vincent tenta transformar este simples facto numa trama semi-biográfica e com claros “gostos” cinematográficos. Contudo, mesmo que bem dirigido e compactado, Les Saveurs du Palais é uma obra que demonstra um carência de um teor mais dramático que poderia servir como “tempero” na solidificação das suas personagens. Ao invés disso, e tal como acontece com a maioria dos filmes-biográficos, a narrativa cede a esquematizações, a personagens descartáveis e por fim, uma protagonista demasiado presa à sua figura mimetizada (mesmo que a atriz Catherine Frot apresente-nos uma desempenho afável e com carisma).

Aliás, toda esta formatação e lugares-comuns levam-nos a crer que Les Saveurs du Palais ficou-se pelas entradas, sem nunca chegar ao prato principal. Temas são muitos que a fita de Christian Vincent (que também contribuiu para o argumento) aborda, mas sem nunca explora-los ou utilizá-los como deve ser, como por exemplo a discriminação nas cozinhas profissionais que poderia levar o filme para outros caminhos, muito mais ousados e convincentes.

Assim, apesar das bons valores de produção (e as lições de gastronomia que deixam com água na boca), este filme é um esforçado, mas dietético produto biográfico, por vezes bacoco e servido com receio. Quem tiver fome de cinema de certeza que não é aqui que se vai saciar.

O melhor – A direção de Christian Vincent e a atriz Catherine Frot
O pior – falta-lhe sobretudo uma “pitadinha” dramática e mais objetivo na entrega da trama.


Hugo Gomes

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