Sábado, 20 Abril

«Rush» (Rush – Duelo de Rivais) por Hugo Gomes

De Ron Howard sempre podemos esperar o melhor (Apollo 13, Frost/Nixon) como também o pior (O Dilema, O Código Da Vinci). Trata-se de um realizador imensamente ativo na indústria cinematográfica, por vezes inspirado, outras vezes nem por isso, mas acima de tudo, um fiel seguidor das bases classicistas e académicas do ramo. Rush, a história de rivalidade entre dois pilotos da Formula 1, foi visto e esperado com a maior das dúvidas. Porém, a cooperação de Peter Morgan (The Queen, Frost / Nixon) no argumento fazia antever algo sólido dentro da fábrica de sonhos que é Hollywood.

Antes de mais, este longo duelo pela linha da meta é um “poço” dos mais usuais e familiares lugares-comuns e tecnicos que o cinema norte-americano nos havia habituado. Estranho será dizer que Rush, mesmo não reservando nenhuma surpresa a nível técnico, do guião e até mesmo no campo das interpretações, surpreende pelo facto que dentro dos seus limites se comporta como uma obra profissional, solidamente orquestrada e arrebatadoramente emocional, principalmente vindo de Howard.

Baseado na história verídica de Niki Lauda (um carismático e firme Daniel Bruhl) e James Hunt (Chris Hemsworth), dois pilotos de Formula 1, ambos campeões no seu desporto e célebres pela sua rivalidade fervorosa, Rush apresenta-nos um argumento impressionante (que tirando os embelezamentos aqui e ali, pouco foge da realidade). É nesse trabalho favorável de Peter Morgan que a fita de Howard acompanha um ritmo abrasador sobre um tom apaixonado. O dinamismo deste trabalho e do par de protagonistas, que realçam os seus personagens num tom trágico (volto a referir que Daniel Bruhl encontra-se imaculado como Niki Lauda), ofuscam algumas atitudes menos sensatas, como a inabilidade com que tenta abordar a vida social dos pilotos, caindo nos esquematismos e em algumas personagens descartáveis e sem relevância (Olivia Wilde é um dos pontos fracos).

Porém, face ao seu “calcanhar de Aquiles“, quando se comporta como biopic, a obra de Ron Howard revela emoção na forma como ilustra as ditas corridas, ponto alto e dramático do filme, algo que consegue – a todo o gás – integrar os mais vastos lugares-comuns do subgénero; os slow-motions, a música orquestrada que precede a emoção como dita linguagem, os relatos sentidos e “apocalípticos” dos comentadores e os flashbacks que surgem a toda velocidade, tudo  apresentado com o maior dos profissionalismos e … paixão!

O final chega a roçar o poético e filosófico, uma cereja no topo do bolo que arrebatará por completo o espectador. Desde que o cinema se apaixonou pela velocidade a quatro rodas, existem poucos filmes que transmitem tamanho amor.

O melhor – Dirigido com paixão e dinamismo e um excelente Daniel Bruhl
O pior – O retrato da vida pessoal de ambos os pilotos é deveras esquemático e pouco aprofundado!


Hugo Gomes

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