Quarta-feira, 24 Abril

«A Coeur Ouvert» (De Coração Aberto) por Hugo Gomes

Um casal de conceituado cirurgiões depara-se com a chegada do seu primeiro filho e com os diversos problemas trazidos pela dependência alcoólica, que gradualmente levam uma relação intensamente apaixonada para uma espiral de inseguranças e desconfianças. Juliette Binoche e Édgar Ramirez são os protagonista desta obra de produção francesa e argentina, À Coeur Ouvert (De Coração Aberto), um enredo de influências dramaturgas que muito bem podia integrar na grelha televisiva e rotineiro de Domingo à tarde.

O problema aqui não está nos seus atores nem sequer da sua história, mas sim a maneira como narra tais factos. Marion Laine (a realizadora) é ineficaz em adquirir um ritmo acertado e constante na obra. Ao invés disso, transmite por vias de uma narrativa fragmentada e de fetiche por festividade. Assim sendo, este exagero prazenteiro é intercalado por discussões ou brigas casuais que apenas funcionam como impasse em algo que podia passar por uma curta-metragem. Devido a tal, De Coração Aberto arrasta-se como um penoso exercício dramático minimalista, entediante e pouco desenvolvido, até mesmo na sua intensidade e ênfase.

Os atores até certo ponto parecem ter a noção da qualidade aqui apresentada para deixarem-se de esforços desnecessários, recorrendo à caricatura. Édgar Ramirez é um exemplo disso, enquanto Binoche se expõe naturalmente para a câmara (normal!). O resultado é uma relação demasiado artificial entre ambos para ser levada a sério.

Como tal, De Coração Aberto é nos seus mais variados artifícios, um puro fracasso dramático e um desperdício de atores. Nem mesmo o final conseguiu estabilizar este “coração doente”!

O melhor -Juliette Binoche é sempre Juliette Binoche, quer queiram, quer não!
O pior – O ritmo, a ênfase dramática, a ineficácia dos desempenhos e a direção de Marion Lane.


Hugo Gomes

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