Quinta-feira, 25 Abril

«Riddick» (Riddick – A Ascensão) por Hugo Gomes

Vin Diesel sempre expressou que Riddick, a personagem que vestiu pela primeira vez em Eclipse Mortal (2000), é o seu papel mais pessoal e querido. A verdade é que o ator retornou à milionária saga Velocidade Furiosa, após dois capítulos de ausência (o cameo em Tokyo Drift não conta como participação), para que Riddick continuasse a ser produzido para o grande ecrã, demonstrando assim o seu amor por este autentico anti-herói. Enquanto que a primeira aparição, uma obra negra de ficção cientifica no mínimo competente, converteu-se numa obra de culto entre o circuito dos videoclubes, a sequela em 2004 (As Crónicas de Riddick), já com um orçamento algo sério (cerca de 100 milhões de dólares), ficou aquém das expetativas e para além de tudo foi um prejuízo para os estúdios da Universal Pictures, o qual chegou a comprometer a produção do terceiro filme. Se não fosse Diesel negociar com os estúdios o seu ressurgimento em Velocidade Furiosa para que estes financiassem uma franquia de menor orçamento.

Para comprimir os custos, e ao mesmo tempo aliciar o lado mais artístico da saga, David Thowy (realizador de todos os filmes deste universo) tenta “apagar” as escolhas diretivas que prejudicaram As Crónicas de Riddick, como as suas pretensões cinematográficas e o seu grande orçamento, reencaminhando o espectador nos trilho do primeiro filme. Assim sendo, temos uma cópia sofisticada de Eclipse Mortal, por outras palavras, um upgrade, visto estar longe da experimentalismo do filme de 2000.

A história acompanha Richard B. Riddick que, após ter sido aclamado líder dos Necromongers (uma espécie de cruzados espaciais em busca de um “Eden“) em consequência dos eventos do segundo filme da saga, é traído e abandonado pelo seu povo num planeta remoto e selvagem onde a escuridão é novamente o maior dos perigos. Para conseguir escapar daquele ambiente inóspito e hostil, o fora-da-lei necessitará da ajuda daqueles que sempre o perseguiram, os caçadores de recompensas.

Perante este argumento envolto de constante sensação déjà vu, Thowy tenta construir desde o inicio terreno fértil para o “talento” de Vin Diesel. Este action figure esforça-se para ter uma interpretação corajosa e eficaz na condução das imensas sequências em que surge sozinho ou rosnando para criaturas digitais, e tudo até poderia resultar se o ator fosse realmente capaz, e não uma rocha inexpressiva e com preocupações maiores em preencher o grande ecrã com o seu factor “cool”.

Depois de atravessada essas sequências guiadas por um tour de force esforçado, mas sem projeção, o filme rapidamente transforma-se naquilo que se pretendia, ou seja, num regresso do ambiente Eclipse Mortal, onde assistimos a monstros alienígenas guiados pelos próprios estereótipos, carnificina a nudez (este Riddick é de novo um filme para maiores de 16) e um protagonista tão omnipresente e ausente de falhas que nos coloca num beco sem saída. Não tendo o espectador outro remédio do que aceitar a diversão que nos tenta transmitir, Riddick é assim um entretenimento passageiro, visualmente gratificante, de argumento reciclável e com um anti-herói descerebrado que se comporta como o tipo mais esperto em cena.

Contudo devo salientar que David Thowy acertou na mosca com Katee Sackhoff, uma potencial herdeira da vaga de heroínas deixada por Sigourney Weaver e Linda Hamilton.

O melhor – Katee Sackhoff e (apesar de tudo) as sequências iniciais com Vin Diesel e criaturas CGI
O pior – Um argumento reciclável e um protagonista demasiado omnipresente.


Hugo Gomes

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