Sábado, 20 Abril

«Paranoia» (Paranóia) por Hugo Gomes

Por vezes não basta ter ideias, há que saber geri-las e no caso do novo filme de Robert Luketic (21), gerir não é de certeza a palavra de ordem. Baseado num livro de Joseph Finder, Paranóia expõe o espectador a uma labiríntica intriga de espionagem empresarial e violação de privacidade (as recentes polémicas das escutas por parte do Governo dos EUA favorecem a sua relevância). Contudo, Luketic – com o auxilio do argumento de Barry Levy e Jason Deal Hall (Spread, Vantage Point) – tem a proeza de distorcer um enredo adulto e transforma-lo em pura metamorfose hollywoodesca e inconsequente.

Uma fita acual e com traços de inteligência, resultou num desperdício de potencialidades. Infelizmente o que encontramos aqui são as assinaturas básicas do cinema comercial de estúdio, onde reduz o inteleto a uma pura “saloiada”. Lado a lado está a pertinência das ideias com o irrealismo novelesco, como por exemplo um romance para “encher chouriços” entre o protagonista (Liam Hemsworth, em modo vedeta para adolescentes) e uma Amber Heard mal aproveitada e caraterizada, que chega mesmo a roçar os contornos risíveis e fabulistas. Depois existe aquele background de thriller de pacotilha que não varia entre perseguições e tiroteios, atrativos primários para um público ressacado do verão cinematográfico. São ameaças do uso de sapiência e genica astuta de que Paranóia é feito, levando tais toques para o plano secundário.

Resumindo, temos uma intriga de fácil digestão, propício a pouco uso do cérebro apesar dos falsos testemunhos, personagens descartáveis e irrealismo à mistura. A dupla Gary Oldman e Harrison Ford, como dois trunfos interpretativos, não impedem o descarrilamento da fita por completo. Ainda assim, este é um produto com potencial, fracassando em prol do ato de vender.

O melhor – os toques de reflexão social (ficou-se mesmo pelo toque!)
O Pior – uma premissa inteligente que serviu para concretizar um filme tão tonto.


Hugo Gomes 

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