Sábado, 20 Abril

«The Zero Theorem» (O Teorema Zero) por Fernando Vasquez

Qoren Leth é um talentoso e excêntrico engenheiro informático. Dentro da sua empresa é de longe o mais habilidoso e rápido, valendo-lhe toda atenção menos aquela que mais lhe interessa. Socialmente é exactamente o oposto. Recluso dentro da velha igreja que transformou em lar, refugia-se de iniciar qualquer tipo de relação com o mundo exterior. O seu grande sonho é receber a tão esperada chamada que lhe permitira trabalhar em casa, cortando assim qualquer vinculo com o caos lá fora. O desejo cumpre-se quando lhe é entregue a missão impossível de resolver o chamado Teorema Zero, cuja solução revelara o segredo da vida.

O mais recente filme do veterano Terry Gilliam, que nos transporta para uma Londres num futuro baseado na visão do presente de Gilliam, é um dos grandes favoritos para levar o Leão de Ouro para casa. Após uma série de desaires como Parnassus – O Homem Que Queria Enganar o Diabo, Gilliam regressa agora com renovada confiança e humildade nesta produção low budget.

Muito semelhante ao universo criado em Brazil: O Outro Lado do Sonho nos anos 80, Terry Gilliam formula um futuro sujo, barulhento, fútil e sem grande rumo, onde o clássico se funde com o futurista em cada cenário e em cada detalhe. De Gilliam outra visão e resultado não se poderia esperar.

Christoph Waltz tem aqui também uma oportunidade de ouro para mostrar uma nova face. Com Tarantino, o ator austríaco sempre representou papéis secundários, mais caricaturas do que personagens complexas e refletidas. Em Zero Theorem Waltz demonstra todo o potencial, conservando muito do fantástico sentido cómico e absurdo que todos lhe reconhecem, ao mesmo tempo que se debruça com enorme eficácia na representação de uma personagem labiríntica e em constante rebuliço emocional.

Apesar de Waltz e Gilliam se reinventarem de várias formas, e das performances de grande nível de Tilda Swinton e Matt Damon, a grande surpresa do filme é inquestionavelmente a francesa Mélanie Thierry, no papel da sedutora Call Girl que se apaixona, reciprocamente, por Waltz. A presença de Thierry é absolutamente contagiante, sendo indiferente a algumas falhas no enredo e diálogos, em particular na fase final da relação da sua personagem com Cristoph Waltz, que só não é uma catástrofe total pela hipnotizante postura de Thierry.

Para todos aqueles fãs de Terry Gilliam decepcionados pelos últimos esforços do cineasta, Zero Theorem será sem dúvida um regresso em grande estilo. Para outros é bem possível que algumas das inconsistências do filme os direccionem para o tradicional coro de críticas negativas que os filmes do realizador sempre germinaram. Seguramente este não é um filme consensual. Mas é de relembrar que, em geral, a grande maioria dos grandes filmes raramente o são, e Zero Theorem possuiu mais que mérito suficiente para que se torne num clássico de culto num futuro não muito longínquo.


Fernando Vasquez
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2013) 

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