Quinta-feira, 28 Março

«The Iceman» (Um Homem de Família) por Hugo Gomes

Condenado em 1986 pelo assassínio de mais de 100 pessoas, Richard Kuklinski, mais conhecido por “The Iceman”, era um assassino a soldo a cargo da Máfia. Fora dessa faceta negra foi um pai de família e um marido exemplar que vivia o eterno sonho americano, ao menos fazia aparentar, ocultando a sua profissão da família. Quando um dos seus trabalhos “corre para torto”, e os seus entes queridos são ameaçados, Kuklinski tenta resolver a situação à sua e única maneira.

Dirigido pelo semidesconhecido Ariel Vromen, Um Homem de Família é uma partitura sólida que nos apresenta invocações mais clássicas e conservadoras aos cânones dos apelidados mob movies ou filmes sobre o crime organizado. Contudo, ao contrário de inúmeros exemplares de referência do género, Um Homem de Família não intervém como somente mais um retrato da máfia e afins. Ao invés, o filme incute o drama de um homem que construiu uma família e que tenta tudo para a manter, face aos perigos inerentes à ilícita profissão de risco que exerce.

Nesses termos, a obra comporta profissionalmente como um drama bem estudado que não cede à emoção barata nem ao gratuito e que por fim apresenta-nos Michael Shannon como o “maestro” da trama (com quedas para psicopatias). Ele é frio quando deve e emocional (sem overacting) nos momentos exatos. Ficamos até com a sensação de que o ator transporta o filme “às costas”.Quanto ao elenco secundário, uma cada vez mais ofuscada Winona Ryder e um irreconhecível Chris Evans não saíram mal na pintura, mesmo que os seus personagens, sobretudo a de Ryder, sirvam de alavancas dramáticas para a interpretação de Shannon.

Por fim a realização. Ariel Vromen invoca uma classe tingida com um ritmo energético e uma sobriedade que não é esplendorosa e cativante para o seu protagonista. Por vezes sagaz e intenso, mas acima de tudo suportado por um ator de primeira linha, Um Homem de Família garante um cantinho especial nas estreias cinematográficas do ano. Um filme curioso de assassinos, mafiosos e homens de família. Interessante!

O Melhor – o desempenho e a eficácia de Michael Shannon
O Pior – é um filme solido, mas é Shannon que lhe transmite carisma


Hugo Gomes

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