Quinta-feira, 18 Abril

«La Cage Dorée» (A Gaiola Dourada) por Hugo Gomes

Num dos bairros mais luxuosos de Paris vive uma família de imigrantes portugueses, os Ribeiros (Joaquim de Almeida, Rita Blanco), que dedicaram mais de 30 anos das suas vidas a trabalhar arduamente em prol de uma vida melhor na capital francesa, uma vida que possivelmente eram incapazes de possuir em Portugal. Contudo, quando surge uma desaparecida herança, uma herdade para os lados do Douro, os Ribeiros serão submetidos a um dilema: abandonar o país que os acolheu, esquecendo os esforços que culminaram para garantir melhores condições de vida para si e para os seus filhos, ou voltar para Portugal, o país que tiveram forçosamente de abandonar.

Dirigido e escrito por Ruben Alves, ele próprio um filho de imigrantes portugueses, A Gaiola Dourada é uma comédia simples que nos remete uma intriga digna das produções gaulesas, momentos de puro equivoco, mal-entendidos que formam as gags e todo um conjunto de embaraços e situações caricatas. Porém, é no seu íntimo que assistimos a uma fita bem portuguesa, com certeza. Poderei ser herege mas existe algo a invocar os “clássicos portugueses” dos tempos de António Silva ou Vasco Santana nesta suposta dissecação da condição de emigrante, que se revela a seu tempo num valoroso tributo à comunidade e cultura portuguesa.

Vivendo sobretudo do choque cultural que Alves submete ao seu leque de personagens, A Gaiola Dourada dispõe todo um conjunto de estereótipos que formam o português de gema. Estereótipos esses que o público português facilmente identificará, sendo eles a divindades da nossa nação; fado, futebol e bacalhau, bem presentes em toda a narrativa e nos propósitos destas personagens estereotipadas (faltou o bigode, mas a referência não é vão), mas sob as melhores das intenções.

Felizmente Ruben Alves não cede à caricatura nem à sátira fácil, consegue algo de orgulhoso dentro dos parâmetros da comédia e claro, na ligação fílmica com o público-alvo. Não é à toa que uma fita destas surge em tempos que a emigração volta a ser uma opção para a realidade portuguesa. E embora longe da critica social, o autor luso-descendente consegue com simplicidade, ingenuidade e sem grandes existencialismos retratar por fim o português no grande ecrã, tal como ele é, e sim, os estereótipos apresentados podem ser vistos como códigos genéticos. Destaque para a partitura musical composta por Rodrigo Leão e as participações de Rita Blanco, Joaquim de Almeida (deixado por momentos o papel de mafioso) e a “caricaturesca” Maria Vieira. Possivelmente a mais divertida e carinhosa comédia do ano.

O Melhor – Os estereótipos em função do desenvolvimento dos personagens e não o oposto. O fado de Catarina Wallenstein.
O Pior – Dificilmente sobreviverá fora da comunidade portuguesa


Hugo Gomes

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