Muito foi discutido e debatido envolto da nova variação cinematográfica do Super Homem, Homem de Aço de Zack Snyder, principalmente no embate de opiniões divergentes aquando aos dilemas trazidos à luz por esta nova produção de Christopher Nolan. Se por um lado fala-se das questões de moralidade e dever como super-herói num dos blockbusters do ano, por outro um desperdiço narrativo espelhado no exagero visual e sonoro, Homem de Aço apesar de tudo e mesmo não tendo, segundo os dados que são revelados, o sucesso esperado em termos de rentabilidade, é sim uma obra mediática que já encabeçou como uma das mais relevantes deste ano cinematográfico. O que verão aqui é a opinião de quem o filme de Zack Snyder desiludiu profundamente.

Prometendo revitalizar a imagem da personagem criada por Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938, este Homem de Aço é a continuação do modus operandis que foi levado a cabo na conversão de outro “conhecidíssimo” personagem da DC Comics, Batman, pós-11 de Setembro, ou seja a imagem do herói fragilizado em constante batalha com os seus fantasmas intrínseco e existencialismo sob uma lavagem mais “dark“. O que resultou no “Cavaleiro das Trevas“, na bem-sucedida trilogia de Nolan, falha redondamente na transição deste mesmo personagem, é que fora do ambiente familiar dos filmes de Richard Donner e de Christopher Reeve, Superman parece um personagem tão entediante e pretensiosamente profundo que contrai na narrativa deste Man of Steel uma espécie de dissecação duma figura lendária com a mesma ambição teológica e metafisica de um Terrence Malick (imaginem só). Porém, todos os inícios de filosofias e tom mais negros e inerentes são abandonados quando Zack Snyder surge em acção assumindo todo o protagonismo.

Como já fora vista na sua frustrada tentativa de cinema hiperativo e tecnológico em Sucker Punch- Mundo Surreal, Homem de Aço torna-se uma sucessão de efeitos visuais vibrantes e sofisticados. Nada contra este tipo de artifício cinematográfico, mas em doses exageradas como assistimos – em principal relance no último ato – somos conduzidos para um facilitismo visual manipulador capaz de igualar aos mais recentes e pomposos videojogos de consola do momento. Depois temos aquela destruição desnecessária de fazer inveja a Roland Emmerich e a sua demanda no cinema-desastre, ainda mais desnecessária quando apercebemos que o protagonista que prometeu defender a Humanidade a todo o custo, contribui para a destruição da mesma. Desequilibrado como tudo, em Man of Steel ficamos com a sensação de desperdício, uma boa premissa que dá lugar a uma inconsequente barafunda técnica e é pena porque admito que ideias é o que não faltava nesta nova criação de Snyder.

A mitologia do herói foi alterada em prol do realismo “forçado” que a fita quer a todo o custo contrair, em principal a caracterização do Super-Homem, e não falo em questões óbvias de estética, mas sim na sua personalidade. Nolan e a sua equipa parecem ter transformado o protagonista que era visto em incursões anteriores como um modelo justificável do bem e do politicamente correcto num deus em aprendizagem com comportamentos algo narcisistas e de imaturidade. Uma “criança inconsequente de força desmesurada” que não consegue esconder o patriotismo que emana, a certa altura ouve-se Henry Cavill a afirmar “que é americano”, algo estranho de dizer quem havia pronunciado em edições anteriores como um cidadão do Mundo. Quanto a Cavill propriamente dito, a figura mimetizada de Reeve encontra-se presente, mais que a própria emotividade e “talento” do ator.

Depois temos um romance tedioso com uma Lois Lane agressiva mas dissipada à fraca estrutura como personagem. Amy Adams foi a escolhida para interpretar o fascínio amoroso do “herói de capa“, uma combinação sem química nem interesse com uma atriz em modo automático. Por fim temos um leque desequilibrado de personagens secundárias, que vai desde uma fracassado equipa do Daily Planet (protagonistas dumas das sequências mais bacocas da fita) e uma Diane Lane ofuscada, mas nem tudo são más notícias no campo das interpretações; Kevin Costner surpreende pelo pouco tempo que manifesta em ecrã, Russel Crowe “dissemina” o seu carisma natural num personagem tão mal aproveitado que sobressai de um cenário deveras fútil para a mitologia do nosso herói, a belíssima Antje Traue (Pandorum) é uma feroz e fria vilã e um ambíguo Michael Shannon com hipóteses de tornar-se no melhor de todo o filme (heresia ou não, é um facto).

O compositor Hans Zimmer consegue espalhar a sua “magia” com uma banda sonora de luxo e com “pé a fundo” na transmissão épica, mas como já é habitual nas obras de Christopher Nolan (visto Man of Steel tratar-se numa produção da sua autoria), este atributo sonoro contrai uma tendência algo manipuladora para a ligação emocional do espectador com o blockbuster em questão. Aliás, isto foi o que senti a ver este novo Homem de Aço, pura adulteração que nos faz adivinhar uma iminente saturação do subgénero. Tem os seus momentos, mas é no geral um filme falhado que não deve ser levado a sério, mesmo que o tom narrativa exponha o contrário.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
Ricardo Du Toit
José Lopes
man-of-steel-homem-de-aco-por-hugo-gomesO Melhor – Michael Shannon, o vilão improvável! O Pior – Sem querer bater no "ceguinho" daquilo que tem sido debatido inúmera e inúmera vezes pelos fãs e adeptos da obra de Snyder, aquele final exagerado e sem nexo para a própria natureza da personagem de Joe Shuster e Jerry Siegel.