Quinta-feira, 25 Abril

«Hysteria» (Boas Vibrações) por Carla Calheiros

Quem espera ver o tradicional filme de época britânico em Boas Vibrações terá uma enorme surpresa. O filme situa-se em 1880, em Londres, e centra-se na pesquisa de dois médicos para aliviar os sintomas da histeria, que acabaria por resultar na invenção do vibrador, tudo em prol da medicina.

A histeria era o nome dado então à patologia que se caracterizava pela instabilidade emocional feminina. Normalmente as mulheres com os casos mais graves acabam por ser institucionalizadas. Numa altura em que a medicina lutava entre o arcaico e a inovação, um médico reputado, o Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce), criou um método de aliviar a histeria, uma massagem vaginal. O médico acaba por se cruzar com o jovem Dr. Mortimer Granville (Hugh Dancy) que começa igualmente a dar consultas no seu sobrelotado consultório e a fazer sucesso entre as pacientes.

Como o seu resumo subentende, Boas Vibrações está repleto de conteúdo sexual, sobretudo ao nível do que ao paroxismo histérico (termo usado para orgasmo feminino) diz respeito. Sem nunca resvalar para mau gosto, o filme vai lidando com a sua temática apostando muito no desconforto das expressões faciais, e num constrangimento contido, sobretudo das personagens masculinas e ,em algumas cenas, tão genuinamente inocentes quanto divertidas.

Até aqui haveria material para criar uma comédia de época inovadora, divertida sem cair nos maneirismos habituais da luta de classes e romantismo. Mesmo assim, a realizadora Tanya Wexler, que regressa após uma década de ausência (recorde-se que este filme é datado de 2011), não quis esquecer o lado mais sério, e mais romanticamente previsível à obra. No entanto, foi por aqui que acabou por enfraquecer o seu resultado final, acabando por tirar força à sua comédia de constrangimentos, que por si só poderia trazer a fórmula vencedora.

O protagonismo do filme acaba por ficar centrado em exclusivo em Hugh Dancy, o jovem médico idealista, tão desconfortável e constrangido como o papel pedia. No entanto, acaba por ser bem secundado, sobretudo por Rupert Everett, a quem os filmes de época assentam como uma luva e que aqui acabam por dar azo, mais uma vez, à sua vertente cómica. Menos brilhantes acabam por estar Maggie Gyllenhaal, competente no seu papel de lutadora pelos direitos das mulheres, mas cuja parte da história poderia facilmente ter ficado fora do filme. Já o veterano Jonathan Pryce cumpre, mas tal e qual como ao fita acaba por nunca por o pé fora da sua zona de conforto.

Por isso, Boas Vibrações é uma comédia de material inovador, que tenta com tanto esforço nunca cair no deboche que acaba por ser a espaços segura demais, mesmo tendo em conta o material apresentado. O filme acaba por ser uma proposta diferente e interessante, a acabar por se travar a si própria caindo em clichés desnecessários.

O melhor: Aproveitar o efeito cómico do constrangimento.
O pior: Auto impor-se os clichés típicos do filme domingueiro


Carla Calheiros

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