Segunda-feira, 6 Maio

«Man of Steel» (Homem de Aço) por José Pedro Lopes

No final de Homem de Aço, muitos se queixaram do excesso de violência e destruição que o filme de Zack Snyder continha, considerando que estávamos afinal de contas a falar de Super-Homem, o tal extraterrestre voador que basta colocar uns óculos para ninguém o reconhecer.

No entanto, esperar encontrar aqui o espírito dos filmes de Christopher Reeve ou da série Smallville é negar a evidência que aqui temos a soma dos dois nomes mais dados a excessos e a cinema comercial nos limites: Zack Snyder (300, Sucker Punch, Watchmen) e Christopher Nolan (The Dark Knight, Inception).

Repleto de discursos épicos, momentos deliberadamente poéticos e de caos e violência q.b. (recheados de analogias pós-11 de setembro, que o argumentista David S. Goyer e Nolan tanto gostam), Homem de Aço é over-the-top em absolutamente tudo.

Por um lado, funciona. Os momentos de ação são aparatosos mas viscerais, enormes mas surpreendentemente físicos. Na realidade, a maioria do caos que muitos se queixam é justificado se pensarmos no que aconteceria se dois deuses lutassem no meio de uma cidade. A química entre Henry Cavill, o novo Clark Kent, e Amy Adams, a nova Louis Lane, funciona às mil maravilhas. E todo o look do filme é ambicioso e cheio de realismo – algo que não se pode dizer de alguns filmes da concorrência (as sequências no espaço de Thor e Os Vingadores deixam muito a desejar, ou o showdown de Homem de Ferro 3, do mais simplista possível).

No entanto, os crimes de Snyder em Sucker Punch-Mundo Surreal e Nolan em O Cavaleiro das Trevas Renasce combinam-se em Homem da Aço. O filme pode conjugar momentos vistosos e discursos orelhudos, mas não os soma de forma muito coesa. Parece que na primeira metade de Homem da Aço estamos a ouvir a mesma ideia a ser explicada vezes sem conta, e que todo o incidente que leva à invasão da Terra vem mais de uma coincidência do que outra coisa (todo o segmento na nave submersa no gelo é mal conseguida).

Em quase duas horas e meia, Homem da Aço mostra que os filmes da Warner\DC são inquestionavelmente mais ambiciosos que os da Disney/Marvel – pelo realismo, pelo tom e pelos valores de produção (sem perucas mal coladas). No entanto, também mostra que depressa abdicam do que o material original representa para dar forma a essa necessidade de mostrar aparato e força.

O que é pena: entre tanta grandiosidade e tanta, tanta destruição, na realidade o que melhor funcionou foram os olhares e sorrisos trocados entre Amy Adams e Henry Cavill. Porque sim, mesmo sem as cuecas vermelhas, o Super-Homem ainda é um conceito tão divertido e descontraído que nem Snyder nem Nolan deviam te-lo transformado em algo tão sério.

O melhor: A sequência final entre Louis Lane e Clark Kent.
O pior: Na primeira metade há cenas tão redundantes como sem sentido.


José Pedro Lopes

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