A verdade é que Sam Raimi, antes de ser referido como o realizador por trás da trilogia do Homem-Aranha ou do curioso Simple Plan- O Plano (1998), era simplesmente relembrado (devo antes expor “é”) como o “homem do Evil Dead”, um produto de baixo-orçamento surgido nas salas de cinema em 1982 que resultou num êxito inesperado e numa experiência assustadora na época, contrariando a fórmula de série B que íntegra, embora nos tempos atuais seja visto como uma marca distinguida.

Reconhece-se portanto que Evil Dead, que por cá recebeu o título de A Noite dos Mortos-Vivos (não confundir com a inigualável fita de George A. Romero, de 1968), é uma obra obsoleta a nível técnico e estrutural, quer pelos efeitos especiais, práticos e amadores, que concebiam um “gore” surrealista e alucinado, os atores desconhecidos e diga-se por passagem, não muito talentosos, e por fim a fidelidade com que o filme executa os estereótipos e clichés do género. Contudo, nada disto impediu de torna-lo adorado e “condenado” a um culto invejável (são poucos os filmes de terror com tamanha legião de seguidores).

Devido a tal, a ideia de um remake não foi de certa forma aceite pela comunidade de fãs como também pelo próprio Sam Raimi, que manteve o projeto sempre “debaixo de olho”. Dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, a sua primeira longa-metragem depois da viral curta Panic Attack!, Evil Dead (o remake) é possivelmente que figure como uma pequena surpresa do terror “gore”, sangrento e com um ritmo entusiasmantemente frenético, o qual compensa as enormes fragilidades de um filme de estúdio. Por vezes torna-se inverosímil devido ao seu exagero gráfico, mas isso não é um problema tendo em conta que o original de Raimi demonstrava tais caraterísticas, aliás a verdadeira debilidade na visão de Alvarez está obviamente na sua falta de identidade.

Demasiado ausente e deslocado do verdadeiro legado de Sam Raimi (ao menos não repete o tom cómico e satírico das sequelas de 1987 e 1992), Evil Dead compõe-se como um amontoado de clichés vistos e revistos, acompanhado por uma fórmula “batida” que apenas assume previsibilidade. Para além disso nota-se uma aspiração ao terror nipónico (novamente deparamos com espíritos malignos representados por raparigas demoníacas de cabelo comprido), onde Hideo Nakata (Gore Verbinski em linguagem hollywoodesca) e Takashi Shimizu afiguram entre as inspirações. Tal como os recentes remakes de obras do género dos anos 80 e 70, Evil Dead não é exceção no fascínio pela heroína, neste caso, uma “arrepiante” Jane Levy que dá conta da dualidade e sinistro em reproduzir algumas das sequências mais icónicas do legado. Por isso ficam já avisados que não há sinal de Ash (o anti-herói desempenhado por Bruce Campbell no original), a menos que tenham a paciência em esperar pelo fim dos créditos finais para ter acesso à talvez única referencia digna de registo do conto de terror que “eletrizou” uma geração. Evil Dead é gráfico, só isso

Pontuação Geral
Hugo Gomes
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