Talvez seja o facto de Tony Stark de Robert Downey Jr. ser uma personagem demasiado ambígua para o papel de herói que faz com que Iron Man se torne num dos maiores êxitos das adaptações cinematográficas da Marvel. Relembro que o pouco confiante primeiro filme, datado de 2008, consistiu num arranque para o mega-projeto dos estúdios Paramount em coligação com a Marvel Studios, o bilionário The Avengers (Joss Whedon, 2012), por isso deve-se considerar que sem o Homem de Ferro este novo legado de super-heróis não teria qualquer existência. Para além do ambicioso projeto, a atual sólida carreira de Downey Jr. deve-se e muito a este “justiceiro de armadura”.

Inserido no mundo do cinema através dos contactos do seu pai, Robert Downey Sr. (também ele ator), Downey Jr. havia fomentado uma promissora carreira no início dos anos 90, tendo até recebido uma nomeação ao Óscar pelo seu desempenho na biografia de Charles Chaplin de Richard Attenborough em 1992, mas o seu envolvimento com as drogas e as várias reabilitações que sujeitou tornaram-no indesejável e problemático, chegando a ser marginalizado pela própria Hollywood que o havia colhido. Em 2003 regressou discretamente, mas foi com o papel de Tony Stark que conseguiu por fim auferir o tão esperado estrelato. Iron Man é definitivamente uma das “jóias da coroa” da Marvel, mas os “louros” advém do actor, que nos dias de hoje é difícil separa-lo da imagem estabelecida de egocêntrico sarcástico (as novas conversões de Sherlock Holmes de Guy Ritchie confirmam isso), mas que graças a tal empenho e carisma converteu um dos heróis menores da editora num dos grandes filmes da sua autoria.

Neste terceiro tomo (sai Jon Favreau na realização, entra Shane Black), talvez o último de Robert Downey Jr. como o Homem de Ferro, o espectador depara-se com um herói mais fragilizado, por outras palavras, humanizado, uma tendência cada vez mais usual neste tipo de produções, a culpa advém de Sam Raimi e Christopher Nolan nas suas conversões de Spider-Man e Batman, respetivamente. Mesmo possuindo um pretensiosismo contagiante, talvez em demasia, o drama incutido nas personagens como também na trama carece exploração devida, e nisso resulta na mais acentuada fragilidade do filme. Tudo indica que a Marvel já não faz obras emancipadas, ao invés disso compete em elaborara episódios seguidos por uma espécie de “previously on The Avengers” e Iron Man 3 não é exceção, é uma fita dependente deste Universo como os últimos Thor e Captain America. Por isso, se perdem as sagas anteriores da Marvel, e perde-se obviamente o fio condutor destas obras.

Nem mesmo o carisma de Downey Jr. salva este filme da iminente deceção, é que depois de uma primeira meia hora excitante, Iron Man 3 rapidamente dissipa as suas próprias promessas. Ao invés de um filme sério e negro que se avizinhava, a puerilidade transformada em pretensão revela-se constrangedora, a viagem às fragilidades de Tony Stark são deixadas ao abandono após a entrega de uma premissa banal que trai a sua própria forma. Trata-se de uma máquina oleada como já é costume do estúdio, uma produção envolta dos seus efeitos especiais sofisticados e das sequências de ação elaboradas e com um fraco desenvolvimento de personagens, sem referir um argumento sem encanto e deveras inconsequente. Robert Downey Jr. continua a ser o motivo da ida ao cinema, mais do que o filme propriamente dito, porque em Iron Man 3 ficamos com a sensação de “criança num mundo de adultos”. Por fim, pergunto para júbilo próprio, o que é feito das habituais bandas sonoras de AC/DC?

Pontuação Geral
Hugo Gomes
iron-man-3-homem-de-ferro-3-por-hugo-gomesQuando o melhor continua a ser Robert Downey Jr. ...