Quinta-feira, 25 Abril

«O Grande Kilapy» por Roni Nunes

 

Filme ambicioso que pretende recriar uma década de relações entre Portugal e Angola no período colonial. Para isto utiliza-se da quase anedótica história do “don juan” angolano João Fraga (Lázaro Ramos), filho de uma família abastada que o envia para concluir os seus estudos em Lisboa. Bem pouco interessado em livros, no entanto, ele dedica-se àquilo que faz melhor: colecionar mulheres.

Só que 1965 os tempos não eram fáceis na capital portuguesa, com agentes da Pide a infiltrarem-se por todos os lados – o que termina por ter consequências. Na segunda parte do filme, “Joaozinho” está de volta à sua terra natal, novamente num contexto político desfavorável – uma vez que se está às vésperas da guerra colonial. Ao seu desporto favorito, no entanto, ele aqui acrescenta outro – a burla financeira.

Essa história aparentemente leve e bastante divertida em alguns momentos serve para o realizador angolano Zezé Gamboa fazer um comentário nada inocente a propósito das complexas relações entre metrópole e colónia naqueles tempos – com o colonialismo e o racismo no centro do conflito. As conquistas amorosas do seu protagonista são intercaladas com várias situações de abuso de autoridade – fazendo um cruzamento interessante entre uma trajetória individual insólita e um panorama histórico e político.

A ambição do projeto é de louvar, embora o resultado tropece em momentos de fluidez sofrível na condução da história e alguns vislumbres de puro amadorismo. Mas O Grande Kilapy tem Lázaro Ramos em grande forma – carregando o filme nas costas e assegurando que ele chegue a bom porto – com uma abordagem histórica relevante sobre questões nada fáceis de abordar.

O Melhor: o cruzamento entre trajetória individual e panorama política e histórico
O Pior: alguns problemas de ritmo e amadorismos – técnicos e de cast


Roni Nunes
(crítica originalmente escrita em abril de 2013) 

Notícias