Sexta-feira, 26 Abril

«Mama» (Mamã), por José Pedro Lopes

  

O monstro precisa de amigos, cantavam os Ornatos Violeta e, aparentemente, Guillermo Del Toro. A sua terceira produção de terror (“El Orfanato” e “Don’t Be Afraid of the Dark”) é previsível apenas por ser excessivamente fiel ao imaginário vincado do seu produtor. Mas uma década depois do J-Horror (“The Ring”, “The Grudge”), dos seus ecos americanos (“What Lies Beneath”, “The Sixth Sense”) e da resposta espanhoal ao terror de fantasmas (com exemplos que vão do “Darkness” ao “Los Otros”) já todos sabem as regras e as vicissitudes destes filmes.
 
Se “Mama” não foge narrativamente ao que já extensivamente fizeram alguns filmes no cinema de fantasmas japonês, americano e espanhol, o que nos resta é avaliá-lo pela sua eficácia como máquina de sustos. E aí “Mamã” é do mais eficaz possível, especialmente considerando que é um filme que nunca arrisca um excesso que lhe pudesse valer um “Rated R” (o maiores de 17 nos EUA).
 
Andrés Muschietti impõe ritmo à narrativa e às suas revelações e “Mamã” muito cedo começa a gerar momentos de medo e pânico sem necessidade de grande demoras. É com surpresa que no prólogo – passado na atual crise económica – temos logo a primeira aparição assustadora da tal mãe macabra do título.
 
O filme vem recheado de bons detalhes (como o facto de filha mais velha retirar os óculos para brincar com “Mamã”, ou a confusão constante entre esta e a filha mais nova por ambas se mexerem de forma selvagem). A sua execução técnica também fortelece o filme: a “Mama” não é um mero bicharoco de CGI (que era o grande problema de “Don’t be Affraid of the Dark”) mas sim uma combinação hábil do digital com marionetes com o bizarro Javier Botet (o ator que faz de Ninã Medeiros em “Rec”) e o seu terror é fantasioso ao mesmo tempo que se mantém físico.
 
A cereja no topo do bolo, claro está, é Jessica Chastain em mais uma prova de versatilidade. A sua rockeira com pouca paciência para crianças, que descobre o seu lado materno, é mais uma revelação numa carreira que se está a revelar espetacular.
 
Com tantas virtudes, técnicas e artísticas, e com tantos e tão assertivos sustos, a terrível falta de originalidade e surpresas de “Mamã” está perdoada.
 
O melhor: Jessica Chastain e a criatura de “Mama” enchem o ecrã nos seus duelos.
O pior: A história é óbvia, e eventualmente, começa a perder alguma coerência.
 
 
 José Pedro Lopes

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