Quarta-feira, 1 Maio

«The Perks of Being a Wallflower» (As Vantagens de Ser Invisível) por André Gonçalves

Caro amigo, 

Já passou algum tempo desde que lhe escrevo. Você não me conhece, e provavelmente será melhor assim. Provavelmente só estará a ler esta crítica porque ficou tão obcecado por Emma Watson que antecipará por reação inconsciente tudo o que apareça com o nome dela nos créditos, qual cão de Pavlov. De qualquer das maneiras, posso assegurar-lhe que sim, Watson encontra-se bastante proeminente e bastante bem na sua proeminência neste “As Vantagens de Ser Invisível”, ao contrário daquele papelzinho de cartão naquele filme feito para dar o Oscar à Michelle Williams, não fosse a malta lembrar-se que a outra já não levava um há uns 30 anos. 
 
Mas prepare-se para ficar agradavelmente surpreendido. Bem sei o que está a pensar aí, a revirar os olhos, na sua superioridade intelectual, a achar que a sua atriz favorita merece já roubar os papéis de uma Keira Knightley… 
 
“Ora é precisamente de um filme de adolescentes o que ela precisa neste momento!” Sabe que mais? Pois é que é precisamente isso, a avaliar por esta amostra. Logan Lerman e Ezra Miller (o mesmo de “Temos de Falar Sobre Kevin“, sim – de psicopata a “gay” rebelde, o que é uma transformação bem mais impressionante do que parece!) são no entanto as verdadeiras estrelas aqui, no meio de um elenco de jovens e veteranos que parece entender muito bem a preciosidade do material.
 
É certo que preferimos recordar os nossos filmes de adolescentes quando estes eram feitos quando… bem, quando eu fui feito. O rei dos gazeteiros, os geeks que decidem inventar uma mulher, uma adolescente que sonha com o rapaz popular do liceu, o grupo miscelaneo que cria uma ligação após um sábado de castigo… enfim, esses eram os tempos, sem dúvida. Por detrás de todas estas histórias, um nome: John Hughes, ícone merecidíssmo de uma geração, entretanto falecido.
 
O realizador Stephen Chbosky (aviso: não dizer o apelido de boca cheia!) sabe disso, e para tal foi buscar uma obra autobiográfica que remonta precisamente uns bons anos atrás, quando a música dos 80’s ainda se fazia soar em “mixtapes” autênticas, e o resultado poderia ser um projeto de Hughes perdido na prateleira, imediatamente antes do seu exílio e declínio da cultura popular. (de qualquer das maneiras, deveríamos confiscar se Hughes não teve efetivamente nada a ver com esta produção…)
 
Foram poucas as pessoas a conseguirem capturar as angústias de se ser adolescente de uma forma tão boa e que chegasse a tantos adolescentes como Hughes. Não se pode infelizmente contabilizar a quantidade de corações reconfortados, ou até de suicídios evitados pelo visionamento de qualquer um dos seus filmes, tão queridos por serem tão… genuínos. 
 
Demorou umas valentes décadas, mas pode ser que a geração pós-MTV tenha finalmente o seu filme de culto para se agarrar por uns tempos, e pela primeira vez em muito, muito tempo, alguém tenha conseguido capturar para o “mainstream” algo de muito tocante, de tão honesto.  
  
Se não nos falarmos mais, pode ser que pelo menos tenha dado uma boa recomendação final a você que está aí encostado, a olhar para o relógio, enquanto pensa no passado. Supostamente invisível.
 
 André Gonçalves
 

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