Sexta-feira, 29 Março

«End of Watch» (Fim de Turno) por Nuno Miguel Pereira

Bryan e Z (Jake Gyllenhaal e Michael Peña, respetivamente) são dois polícias e melhores amigos do departamento de Los Angels. O seu turno de vigia nada tem que ver com as rotinas nos bairros mais pacatos, onde há tempo para comer donuts. Aliás, neste filme não vi um único donut. Eles trabalham maioritariamente em bairros muito perigosos e onde reinam os gangues de hispânicos e de africanos. Apesar do que esta pequena sinopse parece transparecer, esta história pouca tem que ver com tráficos de droga e com cenas de ação padronizadas, onde os polícias são anjinhos e a narrativa é previsível. Nesse sentido este filme acaba por ter algumas semelhanças com o “Dia de treino” (o realizador, David Ayer, escreveu o argumento dessa obra), onde o ambiente é carregado de violência e a moral das pessoas anda sempre nas zonas do cinzento. No entanto, neste caso os policias não são corruptos, antes pelo contrário, são até muito boas pessoas. Simplesmente não cumprem escrupulosamente as regras e usam alguma “Ética de macho”. Como numa situação em que Z tira o crachá e resolve lutar “mano a mano” com um criminoso (esta cena é “brutal” em todos os sentidos). 
 
Há que dar os parabéns a Ayer (escreveu e realizou). A forma como este deu um enorme realismo a quase todas as cenas. Bryan, por algum motivo que não ficou bem explícito, documenta todas as suas ações em serviço através de uma câmara, dando aquela sensação que estamos a assistir a um episódio de Cops. Essa sensação acaba quando eles abrem a boca e ouvimos cerca de 100 palavrões por segundo numa linguagem dura e crua. No fundo isto é um filme hiper masculinizado onde até as mulheres polícia são “homens” autênticos. Destaque para a America Ferrera que faz de uma polícia que nada tem que ver com a “Ugly Betty”.
 
Por outro lado, temos também direito a ter a visão dos maus da fita, que aliás também se filmam a eles próprios. Neste ponto há que referir a personagem de Yahira ‘Flakiss’ Garcia, que consegue assustar mais que todos os personagens masculinos do filme.
 
Acaba por ser evidente a falta da perspectiva feminina neste filme, mas isso não é totalmente verdade. A adorável Anna Kendrick, a namorada de Bryan, dá aquele toque feminino que serve para abrandar um pouco o ritmo de agressão, violência física e verbal que vamos sendo expostos. 
 
Mas quem reina neste filme são os dois protagonistas. Gyllenhaal parece que foi destinado a fazer este tipo de personagens, um durão com um coração. Por outro lado, Peña tem os melhores apontamentos humorísticos e não se limita a representar o estereótipo do polícia hispânico. Enquanto dupla eles são perfeitos e muito credíveis, sente-se uma grande empatia na relação deles.
 
Quem for ver o filme e estiver a pensar em ser polícia, vai claramente pensar duas vezes à saída da sala de cinema.
 
Depois temos o final e que final. Este é claramente um dos melhores filmes sobre polícias que assisti. 
 
O Melhor: A dupla de atores e a intensidade do filme
O Pior: Por vezes o filme não nos deixa respirar, tal é a sequência de cenas intensas.
 
 
 Nuno Miguel Pereira
 

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