Sexta-feira, 26 Abril

«Total Recall» (Desafio Total) por José Pedro Lopes


No frente dos ‘remakes’ e ‘reboots’ pode-se ser mais purista que o Papa. Acusar a versão de 2012 de ser uma exploração monetária e de franquia da obra de Paul Verhoeven é algo contraditório: apesar de tudo estamos a falar de um “blockbuster” com Schwarzie no alto da sua carreira, com aquele “talento” que era Sharon Stone na pré-era “Instinto Fatal” e que vinha assinado por um Verhoeven no rescaldo de ter dominado as bilheteiras com “Robocop”, e pouco anos antes de assinar o desastroso “Showgirls”.
 
Se “Desafio Total” (1990) era uma aventura ligeira e muito (muito) descontraída, típico produto dos anos 90, então “Desafio Total” (2012) é o típico filme de ação / ficção científica da era moderna. O design de produção é elaborado e estético, a história força contextos políticos (sem grande significado) e toda a ação vem agora pressionada por um estilo mais soturno e mais sóbrio – na realidade bem menos divertido, sem necessariamente ser mais inteligente. Ambos os filmes são meros produtos de entretenimento que abusam mais do que apenas usam um conto do guru do sci-fi Philip K. Dick – adaptado de forma bem mais interessante em filmes como “Blade Runner – Perigo Iminente”, “A Scanner Darkly – O Homem Duplo” ou “Relatório Minoritário”.
 
Len Wiseman (Underworld) já é conhecido pela sua forma ligeirinha e com pouca garra de realizar, mas em “Desafio Total” (2012) consegue dar um pulso forte ao filme na sua primeira metade. Curiosamente, Kate Beckinsale (esposa) revela-se uma vilã à altura (e bem mais interessante que Sharon Stone) e mantém o filme animado, mesmo apesar de Colin Farrell agarrar o protagonismo de forma displicente e pouco emocionante. Em termos de ambiente e futurismo, a versão de 2012 é bem mais eficaz e completa que a de 1990 – e em certa medida está nas linhas de mundos futuristas recentes como os de “Eu, Robot”, “A.I.” ou “Sem Tempo”. A existência de uma máquina gigante que atravessa a Terra pelo centro levanta curiosidade e o exército de andróides é uma boa oportunidade para especulação política e genética.
No entanto – e infelizmente – a prioridade de “Desafio Total 2012” é a mesma da versão anterior: a ação e não a ficção científica. No último terço nada é devidamente explicado e o filme desfaz-se em consecutivas cenas de explosões e corridas. Até Beckinsale parece sair de cena para Farell e Jessica Biel (do oito ao oitenta – quem estava tão bem em “Tall Man” aqui parece perdida) andarem aos tiros com robots e soldados diversos.
 
É no global uma proposta decente e consistente, uma melhoria para Len Wiseman em relação à sua saga “Underworld”, mas inferior a propostas semelhantes dos últimos anos, como “Eu, Robot” ou “Sem Tempo”, que conseguiam combinar ação consistente com um universo interessante e completo.
 
O melhor: A primeira metade, onde o mundo é explorado, e o aproveitamento de Kate Beckinsale.
O pior: Que o filme vá perdendo interesse de cada vez que tem um cena de ação de 10 ou 20 minutos consecutivos.
 
 
 
 José Pedro Lopes

Notícias