Quinta-feira, 2 Maio

«21 Jump Street» (Agentes Secundários) por Jorge Pereira

Não haja ilusões. No mundo que vivemos a criatividade no cinema anda em baixa e por isso mesmo se assistem a cada vez mais remakes, reboots, sequelas, prequelas e adaptações das coisas mais bizarras (sejam jogos de tabuleiro, como «Battleship – Batalha Naval», ou literatura sem uma história propriamente dita, como a adaptação do livro de recordes do Guiness que está a ser desenvolvida). Isso – contudo – não significa que tudo sejam exemplos de preguiça mental, como por exemplo o patético «Quarentena», um copy paste cinematográfico a partir da saga [REC]. Aliás, este «21 Jump Street» é um bom exemplo da qualidade que se consegue nestes «revivals», assumindo de forma consciente que adapta uma série dos anos 80, e brincando com isso mesmo, construindo assim uma comédia de ação cheia de truques e gargalhadas capaz de cativar a juventude de hoje em dia e os agora adultos que nos anos 80 cresceram com ela.

E o mais curioso é que o filme joga muito com o que mudou da juventude dos anos 80 para a juventude dos dias de hoje. A estrutura escolar mantém-se (os populares, os góticos, os nerds, etc), mas há muitos mais grupos e subgrupos. Para além disso os bad boys – que consumiam e traficavam drogas outrora – foram substituídos por jovens sensíveis ao meio ambiente que tocam guitarra e cantam ao seu jeito para salvar o mundo através e questões ambientais. A culpa é de «Glee», grita Jenko (Channing Tatum), um rapaz muito popular nos anos 80 e que agora vai encontrar mais dificuldades em se integrar. Em oposição temos Schmidt (Jonah Hill), um nerd dos anos 80 e que agora tem facilidade em se juntar aos líderes da nova geração. Os dois são dois policias à paisana numa unidade ressuscitada dos anos 80 e que coloca agentes com um aspeto jovem junto aos focos de potencias crimes. A comandar este duo está Ice Cube, ele próprio a jogar com mudanças do mundo do cinema ao desempenhar o papel do chefe da unidade «21 jump street» – e até o ouvimos cantar o sucesso dos anos 80 “Straight outta compton”, dos NWA.

A partir destas bases partimos para um peculiar «buddy cop movie», com Hill e Tatum em grande forma a inverterem os clichés e a divertir genuinamente o público. Aqui destaque para Tatum, um ator mais habituado a papéis musculados e que aqui consegue fazer muita comédia e da boa. Exemplo disso é a sequência em que os dois tomam a mesma droga que tentam impedir. Esta sequência é de ir às lágrimas, especialmente quando Tatum invade uma aula de música. Já Hill tem antecedentes na comédia e sabíamos que tinha qualidade no género. Aqui ele cumpre o seu papel na perfeição, notando-se o esforço que executou para perder peso.

Mas este é um filme de esforços e que conscientemente cai para humor físico sem nunca esquecer a própria história em que se baseia.

Por isto tudo, e apesar de alguns momentos patetas (especialmente no final), «Agentes Secundários» acaba por ser um triunfo e um grande entretenimento momentâneo. E se na originalidade não é de todo visível essa conquista, ao menos salva a inversão da fórmula aplicada a duas personagens com quem simpatizamos.

A ver e rir

O Melhor: Tatum na aula de música e uma perseguição alucinada numa ponte
O Pior: No final há uma série de patetices desnecessárias…

 

 
 Jorge Pereira

 

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