Terça-feira, 7 Maio

«A Torinoi Lo» (O Cavalo de Turim) por Carla Calheiros

Não é fácil escrever ou mesmo classificar um filme com “O Cavalo de Turim”. A obra anunciada como a última do realizador húngaro Bela Tarr é um retrato melancólico e algo deprimente do apocalipse que se avizinha. O filme começa com uma história contada em “voz off”. Perante um ecrã negro o narrador explica que 3 de janeiro de 1889, o filósofo Friedrich Nietzsche saiu de casa para uma tarefa mundana e viu um cocheiro espancar um cavalo. Nietzche acabaria por sair em socorro do animal, mas o episódio acabaria por marcar a sua débil sanidade mental até ao final dos seus dias. 
 
A partir daqui ficciona-se o que poderá ter sido o futuro do pobre cavalo. O cavalo acaba numa velha quinta isolada, com um homem e a sua filha, que repetem as suas tarefas rotineiras de forma robótica durante os dias do fim. Quanto ao animal é o primeiro a render-se, e começa a recusar-se a trabalhar e a comer, caindo numa melancolia cortante.
 
Ao longo das suas (bem mais) do que duas horas, o filme nunca muda o seu tom, mas vai encerrando em que vê uma sensação crescente de angústia. A fotografia é um dos pontos mais altos, criando verdadeiros quadros e acompanhados pelo som cortante do vento que acompanha todo o filme. 
 
Rodado integralmente a preto e branco, e muito parco em diálogos, “O Cavalo de Turim” não é um filme fácil para o espectador e não é certamente um filme para massas. Esse retrato minimalista da vida humana, e sobretudo da forma articulada e sem perspetivas com que muitos a olham, tal como os protagonistas olham pela janela perante o vento devastador, não trás as respostas fáceis, mas dá muito que pensar. 
 
O Melhor: A beleza da fotografia que nos faz sentir que o pó nos entra para os olhos.
O Pior: é demasiado longo.
 
 
 Carla Calheiros
 

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