Sábado, 4 Maio

«Crónica» (Chronicle) por André Gonçalves

O género “found footage” (i.e., vermos todo o filme como filmagens de uma câmara à mão) parece que está para durar, goste-se ou não. “Crónica”, ao menos, oferece-nos uma saída de bruxedos e fantasmas para… super-heróis, entre outras reviravoltas bem interessantes. 

Dito de uma forma redutora, estamos perante um cruzamento entre um “Cloverfield” e um “X-Men”, com uma pitada extra de “drama disfuncional básico” à mistura. Sem querer revelar muito, a história aqui é até simples: três jovens entram num buraco e recebem “poderes especiais”, que podem não estar prontos para controlar. Um deles em particular tem uma fixação por câmaras, e calha ser o elemento mais proeminente do grupo, e aí temos a desculpa perfeita para vermos 90% do filme da perspectiva da sua câmara…os outros 10%, bem, são outras câmaras… 

“Crónica” pode ser muito rígido na sua gímnica, mas abre de facto aqui uma nova porta para o género em que se insere, aproximando este de um campo mais dramático, menos orientado para os sustos fáceis. Tecnicamente, podemos estar perante um dos filmes mais impressionantes do ano. Mais impressionante ainda se olharmos para o seu orçamento relativamente microscópico de 15 milhões de dólares. Parece muito para uma primeira longa-metragem, e um filme que apesar de tudo mantém uma certa veia independente, mas acreditem quando virem, estes serão os efeitos visuais mais bem empregues desde “A Árvore da Vida” de Terrence Malick, no sentido em que de facto potenciam uma imersão profunda no mundo que a película se propõe a contar, e de abertura de uma nova dimensão, quase. No campo mais dramático, infelizmente, sente-se alguma falta de substância, sobretudo quando comparado com o visual aqui capturado. 

Ainda assim, o saldo é positivo e “Crónica” sabe pelo menos acabar num estrondo. Será interessante acima de tudo saber se a sétima arte aproveita a deixa e começa a afastar-se do paranormal, e a aproximar-se (e a desenvolver bem mais) o aspeto dramático em prol da gímnica e dos efeitos, ou se simplesmente vamos ter filmes mais ocos com super-poderes até à exaustão… 
 

O Melhor: Levar o género um passo mais além

O Pior : Dramaticamente podia ser melhor
 
 
André Gonçalves

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