Sábado, 20 Abril

«J. Edgar» por Carla Calheiros

Desde que deixou de aparecer em frente às câmaras parece que o trabalho de Clint Eastwood como realizador também perdeu fulgor. Por isso, é no mínimo curiosa a escolha do realizador de levar ao grande ecrã, nesta fase, uma biografia de J. Edgar Hoover. No entanto, a verdade é que uma biografia do polémico diretor do FBI, defensor do poder da informação como arma de chantagem, pela mão de Eastwood seria no mínimo um projeto a encarar com expectativa. 

Hoover foi o fundador do FBI, e é a ele que se devem muitas técnicas de investigação que estão vulgarizadas como as impressões digitais, ou as análises laboratoriais hoje tão banais em séries como “CSI”. Paralelamente, J. Edgar Hoover acaba por ser uma personagem completamente caricatural, uma figura aparente segura e determinada, um pregador da moral, que afinal acabava por viver uma vida dupla, protegido da gaguez e das suas falhas pelo conforto materno, e escondendo a sua homossexualidade. 

Eastwood aborda a biografia de J. Edgar Hoover com tato, e com a preocupação de humanizar a sua personagem, sem o tornar completamente demagógico e despótico, e sem fazer uma exploração gratuita da sua vida privada. Mas é exatamente aqui que reside igualmente uma das maiores falhas do filme, que acaba por ser tornar morno, e o sentimento relativo a Hoover completamente neutro. Mesmo assim, a interpretação e composição de Leonardo DiCaprio acaba por ser de longe o mais conseguido do filme. 

No fundo, este é um filme sem um toque de realizador, e que poderia ter assinatura de Eastwood ou de outro qualquer, o que neste fase já não lhe é habitual. No geral, “J. Edgar” não é um mau filme, mas acaba por nos deixar uma sensação de indiferença inesperada.

O Melhor: Leonardo diCaprio. 

O Pior: A prudência ao abordar a biografia de Hoover.
 
 Carla Calheiros

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