Sexta-feira, 26 Abril

«Drive» (Risco Duplo) por José Pedro Lopes

‘Drive’ é a manifestação mais clara do que é a virtude da arte cinematográfica – de porque ela apaixona milhões e porque é um triunfo dos talentos combinados de várias áreas diferentes. É que a história de ‘Drive’ é, como diria um espectador mais impaciente, a de um “filme do Stallone”. É linear e obvia – na dose certa, claro está – mas é uma história igual à de tantos outros filmes de acção dos anos 70 e 80 com um herói durão e de poucas palavras, e uns criminosos que não passavam de uns reles vadios que gostavam de importunar mulheres indefesas.
A diferença entre ‘Drive’ e (quase) todos esses filmes está em “como” o filme é – não na dita história. Este filme do dinamarquês Nicolas Winding Refn é um triunfo em todas as artes e todos os talentos que o constituem. Refn é um realizador visual mas muito próximo dos seus actores. Os seus planos são enormes e ricos, mas captam todos os suspiros e hesitações das personagens. Apesar do adorno visual, é um filme ritmado e cheio de emoção, muito graças aos actores que dão vida à história. Ryan Gosling e Carey Mulligan suavemente enchem o lado romântico da história de elegância e paixão contida e sincera. Mas as bombas são mesmo os secundários: Ron Perlman é o melhor dos sacanas (como sempre),  Albert Brooks tem diálogos arrepiantes (como quanto mata um amigo de longa data ou a cena do restaurante chinês) e Bryan Cranston (o pai da série “Malcom in the Middle”) é o trunfo – uma personagem que nos agarra até ao seu desfecho comovente.
{xtypo_quote_left}’Drive’ é ouro em película – brilhantemente actuado, fotografado, composto e realizado. Que mais se pode pedir? {/xtypo_quote_left}No entanto, ‘Drive’ não se fica por ser um filme “art house” bem actuado e dramatizado – ele tem efectivamente grandes momentos de acção, de pura emoção como a brutal sequência do elevador ou a assombrosa execução na praia de um dos vilões por parte de um herói mascarado. ‘Drive´consegue gerir bem doses de suspense (basta ver a cena de abertura e a fantástica banda sonora de Cliff Martinez, o mesmo de ‘Traffic’) e confrontos impactantes (como a cena onde ‘The Kid’ ataca o dono de um bar de striptease – num momento brilhantemente fotografado e encenado).
Talvez seja pena que um ou outro ponto de coerência de ‘Drive’ possam ser postos em causa por alguns dos seus exageros, os quais são apenas mais uma componente daquele que é um filme de acção verdadeiramente emocionante – pelo seu herói carismático, pela donzela adorável, pelos vilões sacanas. É como se um filme “do Stallone” fosse realizado, fotografado, composto e actuado para concorrer e  ganhar a Palma de Ouro de Cannes (ficou-se pelo prémio para Melhor Realizador). É o triunfo de “como contar” uma história em formato de filme.
O Melhor: Nicolas Winding Refn realiza com um olho estético, um pé ritmado e um coração emocionado
O Pior: Um ou outro apontamento exagerado em termos narrativos.
 
 
 José´Pedro Lopes
 

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