Uma aspirante a jornalista/escritora, de “boas famílias”, decide escrever sobre a discriminação racial que vê em pleno Mississipi do início dos anos 60. Poderia ser mais uma história sobre esta era, com a diferença que, o ponto de vista, aqui é dado… às criadas de raça negra, que cuidavam da casa e dos filhos, mas que depois não podiam usar a casa-de-banho dos patrões, entre outras particularidades. 
Confesso que lições de vida enfiadas na garganta do espectador e adaptações de livros do “Clube da Oprah” não é bem o que mais gosto de ver, mas este “As Serviçais” tem carisma para dar e vender, e mesmo manipulando emocionalmente o espectador, sabe fazê-lo com uma mestria que me deixou pessoalmente embasbacado – sobretudo tendo em conta que em quase duas horas e meia não me consigo lembrar de qualquer momento que deixasse na sala de montagem. 
Claro que para este sucesso contribui muito um elenco feminino fortíssimo, no qual se destacam os nomes de Viola Davis e Octavia Spencer (as duas criadas, e duas fortíssimas candidatas a subirem ao palco dos Óscares no início do próximo ano), mas também de Emma Stone e Jessica Chastain, que decidiram tirar o ano de 2011 para aparecer – e bem – em todos os filmes que conseguissem. As palavras e gestos, se no papel poderiam soar a exagerados, tornam-se naturais e fazem com que a mensagem geral, talvez cozinhada demais, seja mais fácil de engolir. 
Há um poder universal aqui que não deve ser subestimado, e que foi factor para todo o fenómeno de “boca-a-boca” que o filme já gozou lá fora (são já mais de 150 milhões de dólares só no mercado norte-americano, a partir de uma abertura de 26 milhões). O filme é também todo ele filmado com cores muito vivas, que reflectem bem o ambiente de contradição social que se podia viver naquela época no Mississipi (é delicioso o apanhado das crianças africanas).
Em suma, se “As Serviçais” é um pouco manipulador e óbvio, até se perdoa, quando é transportado num pacote tão irresistível – e compreendo que precisasse de ser exactamente assim, para passar a mensagem de uma forma mais ampla. E sim, não me lembro da última vez que vi um filme do ponto de vista de uma criada negra. Há também isso.   
Pontuação Geral
André Gonçalves
José Pedro Lopes
the-help-as-servicais-por-andre-goncalves“As Serviçais” é um pouco manipulador e óbvio, e até se perdoa quando é transportado num pacote tão irresistível