Quinta-feira, 28 Março

«Tree of Life» (A Árvore da Vida) por André Gonçalves

A Árvore da Vida é a história de uma família do Midwest americano nos anos 50. O filme acompanha o crescimento do filho mais velho, Jack, da inocência da infância até à desilusão da vida adulta, na tentativa de se conciliar na relação complicada com o seu pai (Brad Pitt). 

Jack (papel desempenhado por Sean Penn em adulto) vê-se como uma alma perdida no mundo moderno, procurando respostas para as origens e sentido da vida, enquanto questiona a existência da fé. 
É difícil escrever quando o que vemos suplanta tudo o que possa ser dito, e o que precisamos é da alma de um poeta no seu auge, e não de um crítico semi-profissional. É assim “A Árvore da Vida”, um drama familiar extrapolado para drama existencial, e quinta longa metragem de Terrence Malick em 40 anos de carreira. 
Brincava-se aqui na redacção virtual sobre o cinema de Malick ser a 4D – quatro dimensões. Não é um pensamento inconsequente. E se há filme do realizador em que mais salta à vista uma quarta dimensão que transcenda espaço e tempo, e a barreira temporal e física da existência humana, para nos revelar uma existência universal. As comparações com “2001” de Stanley Kubrick serão inevitáveis e totalmente  merecidas. Só que em vez de uma odisseia no espaço, temos uma odisseia familiar, e por esse motivo, “A Árvore da Vida” parece ainda mais humano, mais próximo, mais terreno.
Um projecto sobre a criação e existência de tudo à nossa volta usando uma família como microcosmos, seria potencialmente excessivo e catastrófico para qualquer outro realizador da actualidade – incluindo porventura Spielbergs, Scorseses e afins…   
Malick continua a filmar o nosso mundo – e aqui também o Universo – como ninguém, e com a ajuda do génio da fotografia Emmanuel Lubezki cria aqui algumas das imagens mais hipnotizantes desde… bem, desde “O Novo Mundo”, o seu último filme. O seu estilo permanece tão inimitável como intemporal. O transe proporcionado aqui, sem dúvida potenciado por uma noite sem dormir, é verdadeiramente inesquecível. 
No que toca aos actores, eles cumprem plenamente as suas tarefas como receptáculos da poesia muito visual Malickiana, mas há que dar destaque aos estreantes Jessica Chastain e Hunter McCraken. Vão ser grandes. Ou não. De qualquer das maneiras, as suas imagens já ficaram cravadas na história do cinema contemporâneo, à imagem do que tinha acontecido à jovem Linda Manz em “Dias do Paraíso”. 
“A Árvore da Vida” é, em suma, mais um belíssimo e mágico poema visual de Terrence Malick, que assim soma mais uma obra-prima duradoura ao seu currículo. Aqueles últimos minutos finais vão por si só merecer multiplos visionamentos e posteriores debates. O silêncio arrebatador com que assistimos aos créditos finais é por si só sinal de que assistimos a algo superior a nós, algo cósmico, metafísico, espiritual. E se precisamos de quase uma década para ver um filme assim, que destrona facilmente tudo o que tenhamos visto em meses, então seja. *  
 
 
*Felizmente (esperemos), tudo indica que o seu próximo filme/poema vai ser muito mais cedo que o que qualquer um esperaria, uma vez que se encontra já em fase de pós-produção e com estreia agendada para o próximo ano.    
O Melhor: A audácia de ideias. Assistir a um cineasta no topo dos seus poderes e sem quaisquer medos de cair no ridículo. 
O Pior: As luzes eventualmente acenderem-se. E termos que regressar à realidade, e digerir o que vimos numa mera crítica. 
 
A Base: “A Árvore da Vida” é, em suma, mais um belíssimo e mágico poema visual de Terrence Malick, que assim soma mais uma obra-prima duradoura ao seu currículo. 
 
 
 André Gonçalves
 

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