Sábado, 4 Maio

«La solitudine dei numeri primi» (A Solidão dos Números Primos) por André Gonçalves

Um número primo é um número natural que tem apenas dois divisores – 1 e ele próprio. “A Solidão dos Números Primos” pega nesta definição e usa-a como metáfora para pessoas que vivem à margem da sociedade que os rodeia. 
 
Adaptando um “best-seller” de Paolo Giordano, o filme torna-se num curiosíssimo retrato humano, social e romântico de duas pessoas incompreendidas pelos seus pares, e que juntos se tornam verdadeiramente…especiais. Matteo e Alice são dois jovens que em comum partilham um alheamento (autismo?) em relação ao mundo, e duas tragédias no seu passado infantil – um acidente de ski e um desaparecimento.  
 
Não será a história mais original do mundo, mas o filme ganha pontos na maneira como é contada e encenada, numa estrutura elíptica, e com o som (excelente música original a cargo de Mike Patton, mais alguns “hits” disco/pop bem metidos) e a visão a evocarem uma estética de um cinema de outros tempos, nomeadamente da década de 1970. Os actores escolhidos estão todos bem, desde as versões infantis às adultas das personagens com algumas parecenças bem assustadoras em alguns casos, e com o bónus de termos Isabella Rossellini de regresso ao grande ecrã, em mais um papel secundário de algum relevo.  
 
Sempre cativante, e em momentos até hipnotizante, o filme só peca por um epílogo demasiado longo, e que vai perdendo o impacto que tinha atingido anteriormente. Ainda assim, merece definitivamente uma deslocação ao cinema, sobretudo se for um espectador paciente que aprecie uma história que leve o seu tempo a ser contada – e este crítico sente mesmo que há aqui um potencial de crescimento com futuros visionamentos.
 
 
 
O Melhor: Sentirmos que é uma história digna de ser contada, sobretudo pela maneira como é contada – desde a realização até aos actores que dão o melhor nos seus papéis.  
 
O Pior: Sente-se alguma perda de fôlego nos minutos finais (um epílogo que se alonga demasiado) face ao(s) clímax(es) que o filme já nos tinha oferecido. Ainda assim, nada de grave.  
 
 

André Gonçalves

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