Sexta-feira, 3 Maio

‘True Grit’ (Indomável) por Pedro Quedas

No princípio era John Wayne. O “True Grit” original, que deu ao “Duke” o seu único Óscar, em 1969, poderia ser uma sombra pesada para um realizador que ousasse fazer um “remake” deste clássico dos westerns. Mas estes são os irmãos Coen (“Fargo”) e este “True Grit” não é sequer um “remake”.
 
Na verdade, é uma segunda adaptação do livro de 1968 de Charles Portis, e muito mais fiel ao material original, no qual a história é contada toda do ponto de vista da jovem de 14 anos que contrata um homem para vingar a morte do seu pai. Tal como aconteceu com Kubrick com a sua adaptação cinematográfica de “The Shining”, a ausência de crianças com talento suficiente para “carregar” um filme levou a que, no filme de 1969, se mudasse o foco da história para o protagonista masculino. Os Coen decidiram inverter esta decisão e colocar todo o peso do filme nos ombros de Hailee Steinfeld, uma actriz de 14 anos que conseguiu o papel após um casting com mais de 15 mil participantes.
 
E como se porta a jovem actriz? Não devia ser uma surpresa, dado o currículo que os geniais irmãos apresentam no que respeita a conseguir o melhor dos seus actores, mas a jovem norte-americana é, sem dúvida, uma revelação como Mattie Ross. Com uma dose infindável de determinação e humor, o filme acompanha a demanda da protagonista, que, depois de saber que o seu pai foi assassinado por Tom Chaney (Josh Brolin), decide contratar “Rooster” Cogburn (Jeff Bridges) para vingar a sua morte, sendo os dois acompanhados nesta “caça” por La Boeuf (Matt Damon), um “Texas Ranger” obcecado em apanhar Chaney por outro crime que este tinha cometido.
 
“True Grit” é fiel ao seu género, talvez mais do que se poderia esperar, mas não tenhamos qualquer dúvida: este é um filme dos Coen. Com diálogos plenos de humor e ritmo e aquela aura de caos iminente que tão bem caracteriza a sua obra, os irmãos dão o destaque do filme aos seus actores, que respondem magistralmente. A interacção entre Bridges, Damon e Steinfeld quase larga faísca e impede-nos de tirar os olhos do ecrã uma vez que seja. 
 
Hailee Steinfeld é especialmente impressionante e apresenta aqui uma das melhores interpretações femininas do ano. Bizarramente (ou talvez não), aparece nomeada para os Óscares como Melhor Actriz Secundária, o que não faz grande sentido, dado que aparece essencialmente em todos os planos do filme. A razão? Talvez antecipando a forte concorrência na categoria principal, os produtores decidiram colocá-la nos créditos como secundária, de modo a dar-lhe uma melhor possibilidade de conquistar o galardão, o que pode bem vir a acontecer. Se a jovem actriz sair do Kodak Theatre com uma estatueta dourada, certamente não se vai importar com a “despromoção”…
 
 
O Melhor: O humor que acompanha todo o filme, principalmente na interacção de Hailee Steinfeld com Jeff Bridges e Matt Damon.
O Pior: Não ser o melhor filme do ano talvez seja um defeito injusto de se apontar, mas essa é a cruz que os Coen têm de carregar. Ninguém os manda ser tão bons.
 

Pedro Quedas
 

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