Sexta-feira, 26 Abril

«Saw 3D» (Capítulo Final) por José Pedro Lopes

 

Chega ao fim a saga ‘Saw’ com este sétimo filme rodado em 3d, que tenta fechar a subhistória de Hoffman (Costas Mandylor, vilão desde o 5º filme) e criar um circulo em torno de toda a série de filmes. Deve ter sido complicado para os produtores fazer sete filmes em sete anos – a saga já há muito mostra claros sinais de desgaste criativo. Como qualquer saga ‘slasher’ (à imagem de ‘Friday the 13th’ ou ‘A Nightmare on Elm Street’), ‘Saw’ estendeu a sua odisseia homicida até ao limite dos fãs dos terror, e só parou quando a bilheteira começou a cansar-se da série.
 

No entanto, ‘Saw 3D’ é provavelmente o pior filme da série, depois de ‘Saw V’, já que não aproveita a deixa politica de ‘Saw VI’ (onde Jigsaw perseguia a indústria médica e as seguradores) e está entregue a dois vilões francamente desinteressantes e mal actuados como Jill (a esposa de John Kramer) e Hoffman. A série sempre se viu atraiçoada pela decisão de matar John Kramer, o Jigsaw original, no terceiro filme. Se no quarto filme ainda tínhamos muitas cenas com o brilhante Tobin Bell (o veterano actor soube criar um grande vilão), nos filme seguintes pouco tínhamos do icónico assassino. Em ‘Saw 3D’ isto repete-se: Bell aparece uns cinco minutos, se tanto, o que é uma pena, pois ele é o charme da saga.

‘Saw 3D’ falha também na escolha da vítimas. Se em ‘Saw VI’ havia uma agenda politizada e uma vingança pessoal de Jigsaw, ou no ‘III’/’IV’ havia um ciclo de personagens coesa, em ‘Saw 3d’ a vítima principal é um oportunista que escreveu um livro com mentiras. Dificilmente um crime passível de tanta tortura, mas Jigsaw mata violentamente o autor e todos os que ajudaram a vender milhares de cópias. Uma agenda estranha, vinda da cabeça de argumentistas em crise de imaginação.

‘Saw 3D’ abre com uma morte num espaço público (o que é interessante e devia ter sido explorado antes), e consegue oferecer alguns momentos ‘gore’ intensos (como a sequência da chave num gancho dentro do estômago). Mas no geral as suas mortes são mais rotineiras que inspiradas.

Apesar de óbvia a sua surpresa final, o filme fecha o ciclo narrativo da série com um fio de condutor mais interessante. Fica a ideia, como já havia nas sequelas, que ‘Saw 3D’ poderia ter sido mais bem conseguido se não tivesse sido feito em 12 meses. Não é só o seu argumento que se ressente, o filme está por vezes mal realizado e o seu 3D é muito mal aproveitado.

A série ‘Saw’ esforçou-se demasiado em elaborar história e personagens, sem grande sucesso. Havia de ter apostado mais em iconografismos e métodos do vilão (o Jigsaw de Tobin Bell era brilhante, e os seus métodos e ideologias capazes de fascinar o Dexter Morgan da TV) e ser mais aberto e declarado no terror (as armadilhas são por vezes complicadas sem motivo, e a tensão em torno delas é não existente pois os desfecho é quase sempre o mesmo).

‘Saw 3D’ fecha assim uma série que soube aguentar-se nas bilheteiras e que, apesar de nunca ter batido no fundo em termos de qualidade (todos os filmes são decentes), nunca explorou o real potencial evidenciado no fenomenal filme original e em algumas boas sequelas com o terceiro e o sexto filme.

 

O melhor: A sequencia do anzol no estômago e a conclusão.

O pior: Costas Mandylor é um péssimo vilão.

 

José Pedro Lopes

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