Sexta-feira, 19 Abril

«The Deep» (The Deep – Sobrevivente) por Jorge Pereira

Numa cada vez mais rara incursão em filmar em islandês, Baltasar Kormákur [realizador de filmes em Hollywood como Contrabando e Dois Tiros] decide contar a verdadeira história de um barco que, numa noite gélida de 1984, afundou-se na costa islandesa. Toda a sua tripulação faleceu praticamente no momento, com exceção de Gulli (Ólafur Darri Ólafsson), um homem que contra todas as expectativas consegue chegar a terra através de uma história de sobrevivência difícil de explicar.

Curiosamente, e apesar de Kormákur entender e trabalhar bem com a linguagem do cinema made in Hollywood, a sua abordagem a esta fita é mais na linha dos seus projetos islandeses, como 101 Reykjavik ou Jar City, preferindo um ritmo menos frenético e contido das emoções, algo que no cinema norte-americano costuma dar primazia, transformando estas obras em objetos excessivamente melodramáticos.

Ao invés, e num estilo muito particular (onde não falta um certo humor), Kormákur centra-se num estudo em torno de Gulli, um homem que fica tão surpreso com as suas capacidades físicas e resistência ao frio como os cientistas e investigadores que, dramaticamente, o usaram posteriormente como cobaia – sempre desconfiando da sua história de sobrevivência e  “sempre com o objetivo de ajudar futuras gerações“.

O resultado final é um filme bem mais interessante que a maioria destas histórias, normalmente focadas em lições de moral e em transmitir ao espectador que quando se lutam pelas coisas com perseverança, os obstáculos podem ser ultrapassados (aquele blá, blá, blá).

Uma nota final para Ólafur Darri Ólafsson, um ator habituado a trabalhar com Kormákur (para além dos filmes já citados, também participou em Reykjavík Rotterdam), o qual consegue dar à sua personagem um tom seco e enigmático, tal e qual como o seu corpo se comporta.

O Melhor: Foge dos excessos dramáticos normalmente presentes nestes projetos de sobrevivência
O Pior: Essa fuga do drama chorão por vezes é tão excessivo que há momentos mais presos aos factos do que às emoções


Jorge Pereira
(Crítica originalmente escrita em fevereiro de 2013)

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