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«Penumbra» por Jorge Pereira

Depois de ter ganho algum protagonismo no cinema de terror com No Morire Sola (ler critica [1]) e especialmente Sudor Frio, Adrián García Bogliano regressou com Penumbra, a sua maior produção até agora mas não necessariamente a mais conseguida.

No filme, com alguns laivos a lembrar o trabalho inicial de Dario Argento, seguimos Margarita (Cristina Brondo), uma mulher altiva que vive em Espanha mas que frequentemente tem de estar na Argentina para gerir e tentar despachar um imóvel que pertence à sua irmã. Pelas conversas que vamos ouvindo dela ao telefone, esta não é de todo uma personagem agradável, estando algures entre o nariz empinado e a extrema arrogância. Um dia quando visita o apartamento que tenta alugar dá de caras com Jorge (Berta Muñiz), um homem que mostra particular interesse pelo imóvel. Margarita diz que não tem tempo para tratar de toda a papelada, mas o homem insiste e promete que quem representa não se importa de pagar um absurdo pelo espaço, o que a leva a ficar e esperar. Pelo meio ela sai da casa, perde as chaves, confronta-se com um mendigo, mata o peixe de uma atenciosa vizinha do prédio e faz mesmo um golpe na cabeça numa estranha queda nas escadas. Porém, estes são meros contratempos, pois o pior ainda está para chegar quando surge finalmente em cena o interessado pelo imóvel.

Penumbra é um filme divertido no primeiro terço e consegue manter um certo suspense com o desenrolar da sua ação. O facto de Margarita não ser uma personagem que gostemos particularmente, não significa que esta não nos cative. Aqui joga muito bem o cineasta ao colocar em Brondo (A Soledad de A Residência Espanhola) na tarefa de dinamizar por completo a sua personagem, coisa que faz com mestria e que representa mesmo o melhor do filme (juntamente com o fetiche que Bogliano tem em untar as suas personagens femininas com óleo corporal).

Depois então surge a verdadeira ação da trama, mas também já desconfiávamos que Bogliano iria tornar relevante o facto de no dia em que tudo ocorre vir a acontecer um eclipse total do sol. Aliás, nunca é inocente num filme de terror ou suspense uma situação destas. Com a chegada de mais personagens também sabemos que o mais provável é estarmos perante uma seita e nesse aspeto o cineasta não é nada subtil na forma como nos apresenta os factos. Isso não significa que o filme não tenha verdadeiramente interesse, pois apesar de o último terço ser demasiado vago, caricatural e derradeiramente pateta, os primeiros momentos tem o valor de nos conquistar e fazer permancer até ao fim.

Uma nota final para todo o elenco, que tal como na maioria dos filmes de Bogliano é demasiado derivativo e cliché, não representando na essência – e com excepção de Brondo – uma mais valia para a obra. Ainda assim é sempre bom ver María Nela Sinisterra (que fez capa de uma revista Playboy argentina em 2010) em trajes menores. Pena é o seu destino final…

 
O Melhor: Cristina Brondo
O Pior: O último terço é apressado, vago e  pateta 

Jorge Pereira
(crítica originalmente escrita em 2012)