Terça-feira, 23 Abril

Gal Gadot será a Mulher Maravilha em «Batman vs. Superman»

Os rumores da inclusão de Wonder Woman, a Mulher Maravilha, em Batman vs. Superman eram cada vez maiores. A Variety agora não só os confirma como adianta o nome da atriz que dará vida à maior super-heroína dos comics: Gal Gadot.

A candidata a Miss Universo em 2004 tem vindo a aparecer nos últimos filmes da série Velocidade Furiosa mas revelou-se uma surpresa como escolha para o papel – o qual se tinha especulado ir parar a uma atriz mais conhecida.

Batman vs. Superman é a sequela de Homem de Aço que chegará no verão de 2015. Contará com Henry Cavill como o Super-Homem, Ben Affleck como Batman e rumores apontam que  Stephen Amell fará de Arqueiro Verde, como na série de TV (Arrow). Agora teremos Gal Gadot como a Mulher Maravilha.

Espera-se uma mudança de título para… Liga da Justiça, não?

Sobre a Mulher Maravilha

Por José Pedro Castello Branco

Criada em 1941 por William Moulton Marston, Diana, princesa da ilha de Themyscira, onde vivem as Amazonas da mitologia grega, conhecida no mundo dos homens como “Wonder Woman” (Mulher-Maravilha e não Super-Mulher, como foi conhecida em Portugal, graças à série de TV), aparece pela primeira vez na revista All-Star Comics nº 8, datada de Dezembro-Janeiro de 1941-42, publicada pela editora americana DC Comics ( a mesma do Super-Homem e do Batman). Esta primeira aparição limitou-se a uma pequena introdução da personagem, e é na revista Sensation Comics nº 1 de Janeiro de 1942 que é publicada a sua primeira história completa. Considerada a primeira super-heroína do mundo da BD americana, Diana depressa ganha considerável sucesso e, no verão do mesmo ano, consegue uma revista homónima, “Wonder Woman”.

Ao longo dos seus mais de 60 anos de história(s), Diana, tal como a maior parte dos personagens de BD americanos, viu o seu personagem ser interpretado por diversos autores, viu surgir diferentes versões da sua vida, viu o seu mito crescer para proporções quase épicas. Com o declínio da fama dos super-heróis no final da década de 40, Diana foi dos poucos personagens da editora DC Comics, junto com o Super-Homem e o Batman, a sobreviver e a continuar a ser publicado. Continuou, assim, relativamente intocável até o nº 329 da sua revista homónima, datado de Fevereiro de 1986, quando em consequência da saga “Crise nas Infinitas Terras”, publicada pela editora DC Comics com o intuito de reformular e modernizar todo o seu universo de personagens, a sua história de quase 50 anos chega ao fim, abrindo caminho para George Pérez reformular o seu mundo e transformá-la num dos mais interessantes (mas negligenciados) personagens da BD americana.

O Paradoxo e a Mitologia

George Pérez, o autor do renascimento de Diana, partiu de um molde que existia há já 40 anos, criado por William Marston, que alicerçava as origens do personagem no clacissismo grego, na luta pela emancipação das mulheres e no desejo de paz para todos os homens, e criou um mundo novo para a princesa das amazonas.

Um dos mais importantes elementos do personagem é, sem dúvida, estar intimamente ligado a personagens e à mitologia imemorial dos gregos clássicos. A história de Diana (na versão de George Pérez) começa pela morte violenta de mulheres pré-históricas nas mãos de maridos que se abandonavam a impetuosas explosões de fúria. Uma dessas mulheres é violentamente assassinada, grávida, e a sua alma, tal como as de muitas outras, é recolhida no seio de Gaea, a mãe de todos os Deuses na mitologia grega. Passam-se as eras da terra e, no tempo do apogeu dessa civilização de zénites, a Grécia antiga, um mal estremece as fundações e os alicerces do mundo. Ares, o Deus da Guerra, o carrasco do mundo, vê a sua base de poder aumentar. Receosas do poder do arauto dos conflitos, algumas deusas convencem Zeus, o deus supremo, a outorgar a criação de uma raça de mulheres que espalharão a mensagem dos deuses por um mundo que começa já a esquecê-los e a renegar os seus ensinamentos de paz. Assim, do seio de Gaea, da alma de mulheres mutiladas e das mãos de Atenas, Artemisa, Afrodite, Héstia e Deméter nascem as Amazonas, mensageiras da paz dos deuses e, paradoxalmente, guerreiras ferozes num mundo de homens ferozes. Mas uma alma repousa ainda no seio de Gaea, uma alma para a qual estão destinados grandes feitos.

Passam-se anos e as Amazonas prosperam nos seus feitos e na sua sabedoria. Ares, receoso desta raça de mulheres, ludibria Héracles (o verdadeiro nome, grego, de Hércules) a atacar as Amazonas e a rebaixá-las sob o peso do grilhão e sob a alçada da espada. Vingativas, as amazonas revoltam-se e levantam-se contra a atrocidade dos homens de Héracles, fazendo sobre eles cair a fúria da libertação, o grito da revolta. Ainda que vitoriosas, depressa Atena e as outras deusas criadoras relembram as amazonas dos ideias para os quais foram criadas e como este episódio as manchou de vergonha e quebrou o selo de inocência e virtude que as permeava. Foram assim exiladas para a ilha secreta de Themyscira, onde ficariam guardiãs do mal libertado por outra mulher, Pandora, e cultivariam todas as artes com as quais os deuses as haviam presenteado: a literatura; a escultura; a pintura; a guerra.

Passam-se milénios e Hippolyta, rainha das amazonas, vê um desejo surgir na sua mente. Sentia-se incompleta. Desunida de algo que lograva acontecer. A deusas revelam-lhe que, aquando da sua morte, estava grávida e que essa criança ansiava nascer. Pedem a Hippolyta que esculpa do barro da ilha de Themyscira a figura de um bebé mulher, e a essa escultura dão a vida e as benções dos deuses. Assim nasce Diana, princesa das Amazonas, que de Demeter recebe o presente da força da terra, de Afrodite uma grande beleza e o poder de um coração generoso, de Atena recebe sabedoria, de Artemisa “o olho do caçador e a comunhão com os animais”, de Héstia o poder ”de abrir o coração dos homens” para a verdade e de Hermes (Deus dos Mensageiros), velocidade e o poder de voar.

Diana é criada como a única criança que alguma vez agraciou as vidas das amazonas, crescendo protegida mas atenta aos ensinamentos dos deuses e à sua mensagem de paz e entendimento entre os homens. Mas nunca esquecendo que, por vezes, no caminho para a paz, obstáculo é a guerra.

É então que Ares enlouquece de poder. Algo no mundo dos homens aumentou a sua influência. As amazonas, escolhidas para serem o némesis do deus da guerra, ter-se-ão de preparar para o conflito. São jogadas olimpíadas para escolher a amazona que viajará ao mundo patriarcal (o mundo dos homens) para , ao mesmo tempo reavivar a chama da mensagem de paz dos deuses e evitar os desejos de armas sonhados por Ares. Ainda que proibida pelo sentido maternal e protetor de sua mãe Diana avança sob o manto do anonimato e vence, tornando-se naquilo que nasceu para ser: a protetora que o mundo patriarcal viria a conhecer como Mulher-Maravilha.

O Mundo Patriarcal

Granjeada com uniforme e armadura que estranhamente demonstram os padrões da bandeira dos EUA, mundida de seus dons divinos e de um laço forjado pelo fogo e arte de Hephaestus a partir de um cinto de Gaea, sob a influência do qual nenhuma criatura pode mentir, Diana parte para o mundo patriarcal na companhia de um ferido aviador do exército americano de nome Steve Trevor (que havia sido ludibriado por agentes de Ares a bombardear Themyscira).

Entra assim a inocente Diana no mundo dos homens onde defrontará pela primeira vez o seu némesis e “raison-d’etre”, Ares, o Deus da Guerra. Depressa Diana se instala e inicia a demanda pela paz que coroa toda a sua missão no mundo patriarcal. E nisto reside a maior diferença de Diana com relação aos outros “super-heróis” e nisto também reside um dos maiores paradoxos do personagem.

Diana é uma nobre, embaixadora de Themyscira, que através da influência direta sobre os poderes do mundo (Diana representa a nação soberana de Themyscira nas Nações Unidas), procura proclamar e disseminar os ensinamentos de uma religião morta à séculos, que para ela é a verdadeira, mas fazendo-a reverberar sob a alçada do mais antigo dos desejos: a paz entre todos os homens e criaturas da terra. E Diana é também, quando assim o deseja ou quando o assim é exigido, uma exímia guerreira, lutando pela liberdade e pelo bem ao lado de modernos semi-deuses.

George Pérez, ao longo de mais ou menos 5 anos, estabeleceu Diana não como a mais convencional dos personagens, mas como uma tapeçaria rica, munida de um propósito difícil, para não dizer impossível. Recentemente, um outro autor de BD, Greg Rucka, iniciou uma nova fase na vida de Diana, bebendo fortes influências de George Pérez mas transportando-a para um futuro que ainda é incógnito. Diana possui embaixadas espalhadas pelo mundo inteiro e publicou um livro onde deposita todas as suas crenças (algumas hereges num mundo monoteísta e, neste aspecto ainda, dogmático e fechado) e aspirações. Nele Diana ensina o caminho para a paz mas, como é sabido, ninguém aprecia que lhe seja indicado (imposto?) o caminho. As consequências destes seus ensinamentos ainda estão por ver.

O passado, presente e futuro

A Mulher-Maravilha tem sobrevivido a diferentes versões, quer no mundo da BD americana, quer em outros meios de comunicação. Ainda que não tenha tido, até ao momento, qualquer versão cinematográfica, umas das mais emblemáticas e conhecidas séries de TV de sempre, protagonizada por Linda Carter, estrelava Diana, a Mulher-Maravilha (em Portugal era conhecida como Super-Mulher). Produzido na década de 70 e prologando-se por 3 anos, esta série serviu para catapultar a já significativa fama do personagem. Contudo, a BD continuava a sobreviver com histórias por vezes deploráveis e pouco inspiradas.

Ainda que sendo um dos mais iconográficos personagens da DC Comics, desde a década de 40 que Diana não conseguia encontrar nenhum autor que conseguisse o máximo que o personagem poderia dar. Foi somente em 1986, com o já referido George Pérez, que Diana atinge o seu zénite criativo e torna-se em um personagem complexo e completo. Depois de Pérez, volta a cair um pouco no esquecimento criativo, conseguindo alguns momentos interessantes nas mãos de, por exemplo, John Byrne, que reaviva alguns dos seus preceitos mais super-heroísticos, mas esquecendo-se da essência mitológica e ideológica de Diana.

Nas mãos de Phil Jimenez Diana recupera parte do brilho e lustro de George Pérez, e é nas mãos deste autor que alguns dos eventos mais importantes ocorrem na vida recente do personagem.

Diana perde a mãe, Hippolyta, e a sua terra-natal, Themyscira, é destruída num conflito apocalíptico. Felizmente, os deuses decidem agraciar uma vez mais as suas protegidas amazonas e, no lugar da antiga Themyscira, aparece uma nova, não mais oculta do mundo dos homens, e onde qualquer criatura poderá estudar, aprender e divulgar os preceitos mais nobres de cada uma das suas culturas. Na nova Themyscira nenhuma arma funciona, seja ela espada ou canhão. Diana despoja-se de seu título nobre, deixando cair o seu lado de princesa e abraça o seu lado de embaixatriz, não de um lugar mas de um conceito: a paz, o respeito e a verdade entre os homens.

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