Sábado, 20 Abril

Por onde anda Jordan Peele?

A concorrer indiretamente ao Oscar de Melhor Filme em 2019, Peele já prepara os seus próximos passos em Hollywood com as produções de Us e The Twilight Zone.

Primeiro afro-americano a vencer a categoria de Melhor Argumento Original no Oscar (2018), Jordan Peele, ao contrário do que se possa imaginar, surgiu no meio da comédia. Em formato de sketches, o realizador de Get Out começou a cair no gosto do público em meados de 2012, com o sucesso da sua série Key & Peele, que teve a sua última temporada em 2015, ao lado do ator Keegan-Michael Key.

Seguindo uma carreira dentro do género de comédia, fez aparições em Modern Family, escreveu a banda-desenhada Bob’s Burguer e dobrou recentemente alguns episódios da série da Netflix, Big Mouth, entretanto, foi no terror que encontrou a porta de entrada ao alto escalão da cena hollywoodiana.

Jordan Peele e o ator Daniel Kaluuya na rodagem de Get Out

Get Out foi um dos trabalhos de estreia de maior reconhecimento dos últimos anos, e muito deve-se à mudança de olhar e revolução temática do género de terror. A perspetiva do terror psicológico a partir do tema social do racismo, agora recorrente ao seu portfólio, mas, principalmente, criado de um lugar de fala genuíno, somado ao desprendimento com convenções de género – note que Peele não utiliza o dispositivo dos jump scares – foram os pontos fulcrais para que a longa-metragem conseguisse o reconhecimento merecido e levasse para casa o Oscar de Melhor Argumento Original de 2018.

Neste ano, um pouco mais subtil do que na edição anterior, Peele aparece na premiação com BlacKkKlansman, filme de Spike Lee, e produzido por Jordan. A história central sobre o primeiro policial negro do seu estado e responsável por infiltrar a organização de supremacia branca Klu Klux Klan, em 1978, surge de uma adaptação do livro homónimo escrito por Ron Stallworth (no filme interpretado pelo ator John David Washington), lido pelo produtor, e que posteriormente apresentou a ideia a Lee. No ano passado a obra adquiriu o Grand Prix no Festival de Cannes e hoje concorre a seis categorias no Oscar.

Preparado para o ano que vem, aparece na corrida com a sua próxima longa-metragem de terror, Us. Já com altas expectativas, a recetividade com o projeto acontece desde o elenco até a também inventiva temática. Lupita Nyong’o é Adelaide Wilson, papel central da trama construída a partir da presença de réplicas de cada um dos integrantes da família Wilson que estão ali para aterrorizar toda a duração das férias de verão ao lado da família amiga Tyler, encabeçada pela também premiada Elizabeth Moss. A clara constatação de que o nosso maior inimigo pode estar dentro de nós mesmos é o que dá o gás necessário a esta nova trama dirigida e escrita por Peele.


Us

Fora do mundo das longas-metragens, Peele também já tem engatilhado para estreia no dia 1 de abril a nova temporada da clássica série The Twilight Zone, pela CBS All Access. Produzida e narrada por ele, as novas histórias originais de Rod Serling – em que muito se inspiram produções como o sucesso da Netflix Black Mirror – tem como objetivo criar um espelho sobre os atos e hábitos da sociedade, sempre com uma instigante metáfora sci-fi. Ninguém mais indicado para o cargo do que Peele, hoje sem medo e cheio de entusiasmo em relação às críticas sociais, já que encontrou a partir do sucesso de Get Out maior liberdade criativa.

Além desta, também já está disponível na plataforma YouTube Red a nova série também de sci-fi de Peele chamada Weird City. O espectro antológico deste novo projeto recheado de nomes conhecidos na comédia, como Michael Cera, Awkwafina e até Laverne Cox, pretende adicionar um olhar dramático-cómico em diversas situações vividas pelos habitantes da cidade ironicamente chamada de Weird, num futuro próximo completamente dependente das novas tecnologias.

Peele é um realizador cheio de vontade, e o seu talento, somado ao momento social em que nos encontramos, faz com que Hollywood, apesar de seu antigo hábito de ignorar ou simplesmente soterrar cineastas negros, como Spike Lee, desenvolva uma maior aceitação sobre projetos encabeçados por estes artistas. E agora só nos resta esperar para assistir a ascensão de um talentosíssimo produtor que levará consigo também o espírito de exemplo para próximas gerações.

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