Sábado, 20 Abril

Oscars®: as nossas previsões

 

Em contagem decrescente com os prémios mais mediáticos do Cinema – os Oscars (what else?) – a equipa do C7nema decidiu lançar as suas apostas e preferências para uma noite que promete muitas surpresas … ou nem por isso. 

 

JORGE PEREIRA

A preferência na categoria de melhor filme vai para ROMA, mas creio que com a queda brutal de audiências televisivas dos Oscars, o facto de o filme ser de uma plataforma de streaming, e não ser um trabalho para grande público, a balança vai tender para algo mais abrangente e na linha do crowd pleaser de integração (um Crash, por assim dizer): Green Book é o “Oscar Bait” perfeito.

Na Realização, Cuáron deve ganhar, mas se Spike Lee o conseguir não será de estranhar. Dependerá bastante da categoria de melhor argumento adaptado, pois a Academia se premiar Lee aí ficará mais solta para premiar Cuáron, ou até alguém fora da caixa, como Pawel Pawlikowski, a quem na categoria de melhor filme estrangeiro só Nadine Labaki poderá derrotar o seu Cold War.

Nos atores, aposto em Rami Malek, embora Christian Bale possa ganhar. Nas atrizes, jogo todas as fichas em Glenn Close, eterna derrotada em cerimónias anteriores, enquanto nas categorias secundárias, Mahershala Ali e Regina King devem sair vencedores, podendo na categoria feminina se premiar pela segunda vez em dois anos a “queridinha” Emma Stone.

Noutras categorias, o documentário deve cair em RBG ou Free Solo, na animação Spider-Man: Into the Spider-Verse deve bater The Incredibles 2, e na melhor curta-metragem em imagem real o poderoso Fauve, embora Mother de  Rodrigo Sorogoyen possa arrecadar o Oscar sem surpresas.


 

ANDRÉ GONÇALVES

O filme de Cuáron parece ser a escolha consensual e “in“, mas eu continuo a achar que os votantes da Academia vão continuar a ser básicos, e em tempos de tamanhas indecisões, optar pela obra apaziguadora – neste caso, Green Book.

Se a categoria principal tem uma mão cheia de possíveis surpresas (até podemos conceber uma vitória política quer de Black Panther, quer de BlacKKKlansman), já melhor realizador parece estar mais arrumada e os votantes aparentam estar bem decididos a dar um segundo prémio de realizador a Alfonso Cuáron por ROMA.

A existir um choque, pode surgir na forma de Spike Lee – mas dado que este já deverá subir ao palco para recolher o Oscar de Melhor Argumento Adaptado, parece desnecessário uma repetição. E no entanto, Cuáron pode subir 5 vezes ao palco no próximo domingo… 

Quanto à categoria de Atriz: Glenn Close esteve nomeada 7 vezes ao Oscar sem ter ganho. Mas que se engane o espectador que pense que este é um mero prémio carreira. Também o será, claro (não serão todos os prémios?). Mas há aqui uma gigantesca performance, talvez mais subtil que a maioria das vencedoras nesta categoria, mas claramente a fazer uso calculado de “close up”‘s, de olhares, microgestos, para nos colocar na indignação de uma mulher que sempre viveu em função do seu marido. A narrativa para esta vitória pré-anunciada tem assim o extra de ser uma história intemporal da vitória do patriarcado sobre as mulheres, nesta era pós-#MeToo. 

Olivia Colman é capaz de ser a segunda favorita, mas a sua performance não foge propriamente ao boneco, além de ser mais secundária que as suas duas colegas, na minha opinião. E Lady Gaga terá o Oscar de canção.

No lado masculino: Willem Dafoe é outro veterano multinomeado que nunca ganhou, mas ao contrário de Close, não tem a narrativa do lado dele. A nomeação foi a recompensa, e ficará para a próxima (ou para um honorário, com sorte em tempo de vida). 

Esta é uma outra categoria que não deverá receber grandes surpresas. A imitação de Rami Malek acabou por ser a par da montagem sem realizador a grande história por detrás de Bohemian Rhapsody, e tem tudo o que esta academia adora – transformação numa figura real num biopic.


 

SOFIA SANTOS

Desde 1999, com a estranha vitória de Shakespeare in Love que qualquer amante de Cinema passou a pensar e a ver a cerimónia dos Oscars de forma diferente. Para cada categoria definimos o “nosso vencedor”, “o merecido vencedor” e aquele que será “o provável vencedor”. Ora, se a primeira opção depende unicamente do espectador e de gosto pessoal, a segunda e terceira deviam ser comprimidas numa única e justa categoria: aquela que premeia a excelência, de forma neutra, isenta de política ou de tentativas de fuga a escândalos vigentes. A cerimónia deste ano tem sido das mais polémicas de sempre e ainda não aconteceu. Vamos ver o que nos reserva a noite de domingo…

The Favourite é o meu eleito. O trabalho de Yorgos Lanthimos não deve ser analisado com recurso à lupa da História (enquanto ciência). Não pretende ser um “documento” histórico, é uma sátira aos rituais e excessos pomposos da monarquia britânica. É um drama perversamente divertido, minuciosamente vestido, primorosamente decorado e sobretudo, soberbamente representado. Mas, se o Oscar for entregue a Green Book considero que fica igualmente bem entregue. Quanto ao “provável vencedor” creio que será ROMA, cuja qualidade é indiscutível.

Na categoria de Realizador: Alfonso Cuarón será o provável e merecido vencedor, no entanto, o meu voto vai ao encontro do filme que escolhi na categoria anterior: Yorgos Lanthimos. The Favourite é aquele tipo de projeto de detalhe, onde tudo é um puzzle e em que cada peça se encaixa de forma perfeita: a cinematografia, cenários, adereços, etc.

Tornando a repetir-me (no que à escolha de filme diz respeito), Olivia Colman é a minha “Favorita” para o prémio de Atriz Principal. Pesa muito para esta escolha o facto de reconhecer e acompanhar a carreira da atriz, sobretudo no que aos trabalhos para televisão diz respeito. É sempre de louvar quando um profissional da arte da interpretação nos faz apaixonar por uma personagem que na verdade é, em grande parte do filme, detestável. No entanto o prémio deve ser entregue a Glenn Close, que aos 71 anos e depois de 7 nomeações aos Oscars, deverá levar a estatueta para casa e perante o talento colossal desta mulher, é difícil discordar do reconhecimento.

Se fosse possível ou justo usar uma espécie de comparação para descrever os nomeados à categoria de Ator podíamos dizer que estamos perante 4 Ferrari’s e 1 Smart. Christian Bale é um dos atores mais camaleónicos de que há memória. A entrega de Bale aos papéis que interpreta são sempre memoráveis, mesmo que não alcance os melhores elogios da crítica ou do público mas o meu eleito à categoria, Viggo Mortensen não lhe fica atrás. Nunca na história do Cinema, um ator teve tanta graciosidade a comer frango frito enquanto conduz e mantem um diálogo com o igualmente soberbo Mahershala Ali. Bradley Cooper, Willem Dafoe são atores magníficos mas o prémio deverá ser entregue ao mais “inexperiente” e jovem de todos: o Mr. Robot, Rami Malek.


 

HUGO GOMES

A preocupação dos Oscars para com as audiências televisivas tem-se evidenciado neste slot de nomeados. Ora, se temos a nosso dispor autênticos sucessos de bilheteira (Black Panther, Bohemian Rapsody), produções via streaming (ROMA) ou de preferências entre o público (Green Book, A Star Is Born), filmes como BlackKklansman e The Favorite, cada uma à sua maneira, saem como deslocados dessa equação. Porém, há possibilidades que a estatueta caia no próprio tradicionalismo da Academia com Green Book, ou rompa essa mesma herança com outras duas hipóteses; caindo, por fim, no cinema de super-heróis com Black Panther ou servindo de etapa cumprida para a expansão da Netflix com ROMA.

Contudo, ROMA é o vencedor justo, para além do significado que a sua vitória poderá resultar (uma obra mexicana não falada em inglês poderá ser um dedo médio à fraca proposta hollywoodesca), o novo filme do Alfonso Cuarón é o mais arquitetado cinematograficamente, quer a nível técnico, quer a nível pratico com um trabalho de espaços e no tratamento e preservação da memória.

Alfonso Cuarón poderá somar a sua segunda estatueta como Melhor Realizador, mas por outro lado Spike Lee poderá ser um provável vencedor, talvez em formas de consolidação com anos e anos negligenciado pela Academia.

Falando em reconciliações, Glenn Close poderá ser laureada (por fim!) pela sua prestação em The Wife, tendo como principal rival a “caloira” Lady Gaga em A Star Is Born. E como sabemos o quanto Academia gosta de “sangue novo”, a artista tem a sua chance de levar a estatueta para casa. Mas deste lado, a preferência é mesmo por Close e Olivia Colman por The Favorite.

Já que referi a apetência pelo “sangue novo” em conjunto como um prejudicial Síndrome de Chuva de Estrelas (como adoram “imitações”), a categoria de Melhor Ator poderá ter Rami Malek como o triunfante. A sua performance como Freddy Mercury tem todas as características para impressionar uma Academia que sempre desprezou a construções de “personagens inteiramente novas”. Mas Christian Bale promete não sair sem luta, o que lhe impede é mesmo as passadas declarações que interligam o seu trabalho de atuação com o próprio Satanás … a ver vamos. 

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