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“As coisas más da vida são realmente ótimas”. A máxima de Claude Lelouch

O ano de 2018 não começou da melhor maneira para o realizador francês Claude Lelouch, mas das contrariedades nasceu um novo caminho criativo. No início do ano, o diretor foi assaltado na rua. Mais do que dinheiro ou bens, o cineasta mostrou-se desesperado pelo roubo da única cópia do guião do seu próximo filme, Oui et Non (Sim e Não), um ambicioso projeto que começava a ação em 1937 (ano de nascimento de Lelouch) e se prolongava até aos dias de hoje, fazendo uma visita a um século de música, cinema e política.

Este roubo “foi uma catástrofe“, disse o realizador de filmes como Um Homem e Uma Mulher. “Roubaram-me malas mágicas, aquelas que me acompanharam toda a minha vida e onde guardava a minha inspiração“, lamentou. Lelouch, que apresentou queixa na polícia, ainda andou à procura em todos os caixotes do lixo do bairro a ver se encontrava os seus cadernos e o guião. Nada. Essa busca mostrou-se infrutífera.

Do roubo nasceu um projeto

As coisas más da vida são realmente ótimas” disse o cineasta no final de fevereiro, após anunciar o seu novo projeto, La vertu de l’impondérable. A história é tirada da sua própria “desgraça”, o roubo. Atores não-profissionais vão participar no filme, um desvio ao registo habitual de Lelouch, que neste projeto de baixo orçamento, escrito com sua esposa Valerie Perrin, aplica uma nova regra e paixão. Todo o filme foi executado através de um Iphone.

“Tudo começou com o roubo do guião de um dos meus filmes, intitulado Sim e Não. Esta é também a primeira sequência do filme. A partir daí, tentei mostrar como os incómodos que nos acontecem podem ser úteis e até mesmo formidáveis. Que eles existem para o nosso bem. Filmei com aprendizes de atores de Beaune (a academia que ele dirige) e profissionais como Stéphane de Groodt, Mariane Denicourt, Elsa Zylberstein ou Ary Abittan. Se tudo correr bem, o filme será lançado no ano que vem”, disse o cineasta recentemente ao Le Figaro. 

“Menos pixels, mais emoção”

Para o cineasta, filmar com o telemóvel permite uma “flexibilidade absoluta”: “De repente, sinto que o espectador deixará de ser um espectador para se tornar um ator. Entramos numa certa subjetividade que não existia antes desse telefone. Com câmaras pesadas, éramos principalmente objetivos. Agora, o espectador pode entrar na ação. Fiz movimentos de câmara que nunca fiz antes, que nunca poderia ter feito com uma câmera normal (…) Quando este telefone milagroso chegou com imagens sublimes, disse a mim mesmo, este é talvez o momento de libertar completamente o guião, os atores … Para ir ainda mais longe na emoção. (…) Quando descobri como o iPhone permitia essa busca pela verdade, não hesitei em usar em La vertu de l’impondérable. (…) Eu tentei em todos os meus filmes capturar a vida.  (…) Agora posso aproximar-me da vida. O meu sonho tornou-se realidade.

Sequelas a caminho…

Lelouch já terminou as filmagens da terceira parte da “saga” iniciada em 1966 com Um Homem e uma Mulher, e continuada em 1986 com Um Homem e Uma Mulher: 20 Anos Depois. Mais uma vez, o realizador recorreu ao Iphone para filmar algumas sequências da obra, em especial aquelas mais íntimas entre Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimé. “Aquelas improvisações que integrei no filme filmado com câmeras digitais. Garanto-vos que não vemos a diferença entre os dois”, diz orgulhoso.

Agora, segue-se a sequela do seu Itinerário de uma Vida, intitulada Itinéraire de deux enfants gâtés. Jean-Paul Belmondo e Richard Anconina concordaram em regressar aos papéis de Sam Lion e Albert Duvivier. “Quando Claude Lelouch falou-me em continuar o Itinerário de uma Vida, imediatamente aceitei.“, disse Jean-Paul Belmondo ao le Parisien. Já para Lelouch, continuar a história de Sam Lion é natural: “O filme conta uma história que ainda é relevante hoje. É um filme sobre a amizade, que diz que para ser feliz, você tem que degustar o presente“.