Sexta-feira, 29 Março

A comédia visita «A Morte de Estaline»: estreia dia 25 de abril

A Morte de Estaline, filme de Armando Iannucci, vai estrear nos cinemas em Portugal a 25 de abril, o dia da Liberdade. Este filme é uma adaptação de uma homónima novela, da autoria de Fabien Nury e Thierry Robin.

Em 1953, morre o grande ditador que governou a União Soviética durante 30 anos. Este acontecimento gera muita instabilidade e rivalidade no comité do Partido Comunista, no qual todos os membros, vendo o cargo de líder disponível, deixam-se envergar na luta pelo poder. A Morte de Estaline é uma comédia de humor negro com uma boa dose de sátira política, que foi considerado ofensivo para as figuras da União Soviética, tendo sido banido na Bielorrússia, no Cazaquistão, no Quirguistão e na Rússia.

Durante a ditadura de Estaline, todos viviam atormentados com o medo de serem expurgados. A polícia política, NKVD, contribuía para o pânico geral com recorrentes emboscadas e interrogatórios para identificar aqueles que não eram leais ao partido. “A lista”, continha os nomes dos inimigos do partido e estes raramente escapavam à morte. Com ironia, afirmam no filme: “Não consigo lembrar-me de quem está vivo e quem está morto. Estou demasiado cansado.” A verdade, é que a ditadura de Estaline foi fortemente marcada pelos expurgos. Considera-se que este líder ficou paranoico. Estaline mandou matar membros do Partido e da Polícia pois tinha medo que algum destes ganhasse demasiada popularidade e o destituísse. Estima-se que durante o seu governo, 20 a 60 milhões de pessoas tenham sido mortas por “traição à pátria”.

Os seus guardas tinham ordens expressas para não o perturbar. Estaline, de pijama no seu quarto, tem um ataque cardíaco. No dia seguinte, alguns membros do comité dão com o seu líder “derrubado”, estendido no chão numa enorme poça de urina (acontecimento verídico). Esta situação é retratada no filme com muita ironia e sentido de humor, o ditador assassino está agora inconsciente numa poça de indignidade. Todos os médicos, ou os que restavam, foram convocados para curar Estaline. Contudo, este foi dado como morto devido a uma hemorragia cerebral, passado poucos dias.

A primeira reação face à morte de Estaline foi de pânico. A União Soviética já não se imaginava sem este líder que governou durante 30 longos anos. O culto de Estaline levou à sua veneração. Sob a sua liderança, a União soviética teria tido um papel decisivo na derrota da Alemanha nazi e graças às suas reformas de industrialização, passando também a atingir o papel de superpotência. Surge a ideia de que este líder é insubstituível: “Long Live Stalin”. Os membros do seu comité mostram-se devastados mas rapidamente o seu luto se transforma numa luta pelo poder. Na luta pelo poder, os conluios e as rivalidades apelam ao riso. O nacionalismo extremo e culto de Estaline é elevado ao expoente máximo, chegando ao ponto do irónico. Os membros do Partido Comunista são ridicularizados pela sua superficialidade e falta de bom senso. Aqueles que são conhecedores da história da Rússia compreenderão muitas das inside jokes, pelo que este filme apela mais a este público alvo.

No entanto, considero que o filme é divertido para qualquer um, mesmo que lhe possam escapar alguns detalhes/factos políticos. O carácter humorístico de A Morte de Estaline é uma matéria controversa. O Ministério da Cultura da Rússia considerou este filme desrespeitoso e ofensivo para “símbolos nacionais russos”. O cineasta Nikita Mikhalkov, vencedor do Grande Prémio de Júri no Festival de Cannes em 1994 e o Óscar do melhor filme estrangeiro em 1995 [Sol Enganador], afirmou: “Filmes deste género não devem simplesmente chegar à Rússia e os que compram filmes parecidos não deviam trabalhar no nosso país.” Compreendo que o filme possa ser, em certa parte, desrespeitoso para a memória das vítimas do regime Estalinista. Contudo, esta apreciação deve ficar para a audiência e não para a política.

Em Portugal, vamos celebrar esta semana o 25 de abril. Este dia relembra-nos do direito que temos à liberdade de expressão, sendo assim é triste que em alguns países ainda possa haver este nível de censura. Como tal recomendo a todos que vejam A Morte de Estaline na sua estreia, no dia da liberdade. O dia da sua estreia não é de todo despropositado.

Maria Picas Ribeiro

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