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Entre os muçulmanos luta-se por liberdade; no Ocidente não se sabe o que fazer com ela

Why is Difficult Make Films in Kurdistan

A sessão conjunta no Doclisboa  de duas obras sem qualquer relação entre si, “Why Is  Difficult Make Films in Kurdistan” e “Preferia no Hacerlo”, dá o que pensar. O primeiro, como o título indica, é passado na região do norte da Turquia, já na fronteira com a Síria; “Preferia no Hacerlo” passa-se na pacífica Argentina.

A obra da realizadora Ebrû Avci , muito jovem, dificilmente chega a ser mais do que um filme familiar; durante todo o tempo ela  parece estar a experimentar um brinquedo novo. Filma a mãe, a avó, as amigas; sem que eles saibam, claro, enquadra um grupo de rapazes que dançam. Como esclareceu na conversa com o público, o fez às escondidas, durante um piquenique. Não é a consciência cinematográfica particularmente relevante que interessa, mas o facto do projeto existir.

Por que não é fácil fazer filmes no Curdistão? Na aldeia onde impera o machismo habitual tampouco os mulheres estão lá muito esclarecidas quanto a utilidade do que Avci, que decidiu frequentar o curso de cinema longe dali, anda a fazer.

O medo da repressão é grande: “Ainda bem que esse filme vai ser visto só no Ocidente”, diz alguém. “E quando nos virem saem logo da sala”, diz outra entre gargalhadas. Os questionamentos da mãe seriam pertinentes por cá: “Para que estudar cinema? Se queres estudar por que não ser advogada, juíza, professora? Aqui ninguém liga a isso…”.

Claro que Avci sabe perfeitamente o que está a mostrar:  pela suavidade da abordagem, ainda que longe do mesmo nível de elaboração, chega a lembrar o brilhante “Os Sonhos de Wajda”. O tema é conhecido: estado de sítio no qual vivem as mulheres no mundo muçulmano.

Why is Difficult Make Films in Kurdistan

O filme ganhou uma distinção no Doclisboa – o que não deixa de ser curioso numa noite de premiações que galardoou maioritariamente obras onde a forma esmagava quase nenhum conteúdo. Será o gosto pelo exótico ou o reconhecimento involuntário de que as emoções ainda contam para alguma coisa?

Enquanto Avci tem de desdobrar-se para sobreviver dentro de limites sufocantes, no extremo oposto a realizadora argentina Ileana Dell’Unti chafurda, justamente, na falta deles – e em que pese o facto de tudo se passar em dois compartimentos.

O filme peca pela longa duração mas tem algumas boas ideias – como o seu ponto de partida, que andará em sintonia com muita gente que anda por aí a tentar “escrever um livro”. “No começo queria ser romancista”, diz o alter-ego da autora. “Depois passei para os contos. Fui então para o poesia, que era mais curta e eu poderia ser mais preguiçoso. Acabei por virar comentador do Facebook”, ironiza a si próprio. Ainda assim, ele não desiste de ser o “poeta da era digital”, da “geração que não lê”. É o que no Ocidente se faz com os limites que, em teoria, as pessoas não têm.