Terça-feira, 19 Março

«Sexta-Feira 13»: quando os bons valores matam!

Existe em todo este jogo de “correr atrás” um sentimento de culpa, e essa culpa é minimizada com o uso da máscara. Neste caso, o slasher movie, subgénero que se difundiu na década de 80, encontrou refúgio no disfarce, algo aprendido com as caças de Michael Myers em Halloween, ou do açoiteiro Leatherface em Massacre no Texas, tudo isso na década de 70 (tendo como piscar de olhos às reencarnações maternais de Norman Bates em Psycho).

Sexta-Feira 13 não traz nada de novo no eterno jogo do gato e rato; o assassino no seu recreio, escolhendo as armas e sucessivamente as vitimas, a popularizar a “moda” do whodunit, a descoberta da identidade misteriosa, a verdadeira face por detrás da “máscara”*.

Em Sexta-Feira 13, a tragédia marcou o campo de férias de Crystal Lake. Devido à negligência dos monitores, uma criança acidentalmente afoga-se no paradisíaco lago. Anos mais tarde, o mesmo campo de férias é assombrado por um assassino. Fala-se do regresso de Jason Vorhees, a trágica criança que perdeu a sua vida nas águas, um retorno não apenas físico, mas até metafisico.

Apesar da sua componente sanguinária e politicamente incorreta, Sexta-Feira 13 desenvolve uma veia moralista cristã. Os adolescentes (vitimas) são literalmente castigados pela sua rebeldia, pela luxuria, pelo consumismo e pelos vícios que apresentam. Uma das regras estabelecidas nestes confrontos é a tendência do casal sexualmente ativo ser mortalmente punido durante o ato, a má índole do grupo merece um procrastinado fim e a final girl teria que corresponder os requisitos virginais e de pureza.

Sean S. Cunningham cria sob partes “frankenstenianas”, um slasher atmosférica embebido nas influências deixadas nos exercícios dos anos 70 e por fim, formalizar o modelo que seria seguido anos e anos de indústria até chegar ao sentido “spoof”, de paródia, dos anos 90. No fim, Jason poderá não ser o assassino esperado, porém, as sequelas iriam corrigir isso através do método régua e esquadro (esvaziando o síndrome whodunit que só seria recuperado no quinto capítulo). Curiosidade, o primeiro filme apresenta um dos desempenhos primordiais de Kevin Bacon.

*apesar do uso da palavra máscara no texto, esta não é invocada de modo literal. A conhecida máscara de hóquei que a figura de Jason Vorhees popularizou, só foi introduzida em 1982 com o terceiro capítulo da saga. O uso da máscara tido neste texto deriva sobretudo da identidade ocultada do assassino.

Notícias