Vindo do futuro, James Cameron parece ter feito upgrade aos seus então erigidos códigos de cinema de ação. Tal como havia feito num franchise “emprestado” – “Alien”, de Ridley Scott – transformando-o na musculosa sequela que fora “Aliens” (1986, que por cá obteve o subtítulo de Reencontro Final), Cameron volta a casa, mais precisamente, à ficção científica que havia concretizado em 1984 (“The Terminator”) e constrói um enredo digno de nota, a ação cinematográfica merecedora de registo poético e acima de tudo do estatuto de espetáculo, o filme-evento que hoje em dia perdemos .

Depois de ter catapultado o “Mister Universe” para o estrelato lá para os lados de Hollywood (Arnold Schwarzenegger), o cineasta remexe nos modelos contraídos em “The Terminator” e oferece-nos uma “faca de dois gumes” quanto ao seu conceito de “continuação”. Utilizando as viagens de tempo como argumento necessário para estas novas possibilidades de exploração, “Terminator 2” é bigger and louder, mas nem por isso menos sóbrio, aliás consegue incutir uma humanização acentuada nas suas personagens, inclusive na inesperada relação entre o messiânico John Connor (aqui Edward Furlong a motivar a personagem) e o seu anterior assassino e antagonista, o “Terminator” que é Arnold, a servir do mais perfeito anti-herói dos anos 90. A sua ligação tem de paternal como fraternal, e essa mesma afetuosidade serve como apelo para os preceitos frenéticos que Cameron implemente, aliás nem tudo são “bonecos para destruição”, existindo sim, um verdadeiro objetivo, uma humanidade a ser preservada, e melhor, personagens com que o espetador se possa preocupar nestes trilhos apocalípticos.

No seio desta corrida contra ao tempo – impedir um derradeiro evento futuro, apelidado de “Dia do Julgamento”, de ocorrer – encontramos um vilão formidável, T-1000, um Robert Patrick tão inexpressivo como qualquer máquina industrializada, tecido pelos mais avançados e desafiantes efeitos visuais da altura (sendo deslumbrantes ainda hoje) e pelo rico trabalho prático de Stan Winston (também ele designer da imagem do dito Exterminador), que se concentra como a pura raiz do mal, frio e calculista, ausente de carisma humanizada. Um jogo de gato e rato complementado com uma das mais cobiçadas heroínas do nosso tempo, Sarah Connor, uma Linda Hamilton que demonstra o quão possível é que uma mulher protagonize a ação ao lado dos ícones do género. Relembramos que James Cameron é um dos autores desta inserção da imagem da Mulher no panorama da ação, visto que havia cinco antes [“Aliens”] pegado nos “rascunhos” deixados por Ridley Scott e definir Ellen Ripley (Sigourney Weaver), no mais perfeito modelo de “mulher de armas” desde então.

São estes os ingredientes que nos levam, literalmente, à loucura numa jornada com o pé constantemente pressionado no pedal do acelerador. Pois é, com sequências de pura ação que ficaram para a História, uma heroína inesquecível, cúmplice de um anti-herói imitado vezes sem conta e um vilão que nos faz temer, a não esquecer de uma intriga astuta, avassaladora e envolvente sem nunca vergar pelo ridículo ou a pura risibilidade. Eis um modelo acima do anterior “The Terminator”, este T-2, como é carinhosamente chamado, assume-se como uma pequena “peça de arte” no sistemático regime do entretenimento cinematográfico. Incrivelmente um dos filmes mais entusiásticos da sua década (e uma das suas mais conhecedoras influências), a provar que James Cameron deveria licenciar cursos de como fazer sequelas, e como deveria ter, com todo o respeito, estabelecer o estatuto de artesão do cinema de ação, talvez um dos maiores da sua classe. “Terminator 2: Judgment Day” bem poderia funcionar como o brinquedo jubilante para autores como Philip K. Dick ou Isaac Asimov, enquanto isso cai na apropriação no cinema mais circense, porém, um bom pedaço de circo.