Quinta-feira, 18 Abril

As maiores “banhadas” de 2015

 

ba·nha·da
(banho + -ada)
substantivo feminino
1. [Portugal, Informal] Desilusão ou engano (ex.: tinha altas expectativas e levei uma banhada).

“banhada”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

 

Absolutely Anything

Depois de décadas com um track record quase perfeito (se ignorarmos os problemas da quarta temporada da série original e de The Meaning of Life), os Monty Python (os que restam) resolveram sair da reforma e fazer mais um filme. Se o nome do grupo tem mais de nostálgico do que promissor, filmes como A Fish Called Wanda e até Fierce Creatures mostram o potencial cómico quando se juntam. Neste caso, mais valia não o terem feito: para além de desperdiçar o talento do grupo original, fá-lo também com as participações de Simon Pegg, Eddie Izzard, Joanna Lumley, Meera Syal, Sanjeev Bhaskar, entre outros nomes da comédia britânica, e, pior que tudo, de Robin Williams, no que foi o seu último papel. Se, quase até ao fim, consegue ser só um filme medíocre, o final revela uma corrente muito pouco liberal de quem já foi o poster boy da subversão. 

Menção desonrosa para Tudo Vai Ficar Bem de Wim Wenders e Juventude de Paolo Sorrentino.

João Miranda

O Pátio das Cantigas

Talvez não fosse má ideia criar um novo subgénero de cinema para acolher as demandas de um certo ‘cinema português’ empenhado em envergar o selo do blockbuster, como a genial ideia de Leonel Vieira em emular alguns dos clássicos dos anos 40. Nada a apontar quando um produto tem sucesso no cinema; só falha quando se pisca o olho ao passado e se traveste em formato de telenovela a armar ao pingarelho. O caso de O Pátio das Cantigas passa ser um case study de como é possível fazer saltar mais de meio milhão de almas no sofá da sala para irem ao cinema ver uma versão alargada do seu manjar habitual em ecrã gigante. Mas que, infelizmente, regressam depois aos seus lugares. O resultado não se eleva a mais do que uma longa metragem de Bem-vindos a Beirais. Pode despertar alguma curiosidade quando enverga um nome mítico do nosso cinema, mas não quer dizer que seja, mesmo, cinema.

Menção desonrosa para O Leão da Estrela – nem que seja pelos resultados de bilheteira bem mais pobres, ainda assim supremos para a estatística, o mesmo desdém do que se disse antes se pode aplicar a esta paródia insonsa.

Paulo Portugal

Velocidade Furiosa 7

Patético é o mínimo que se pode dizer deste Velocidade Furiosa 7, um pastiche que se veste como um filme de ação espalhafatoso, mas que acaba por tentar fazer chorar as pedras da calçada com uma homenagem ao falecido Paul Walker.

Na realização, James Wan transveste-se de Michael Bay e executa um chorrilho de sequências tão absurdas como entediantes, não faltando ainda diálogos risíveis e a já célebre sexualização das personagens em quase todas as cenas.

Mais um xXx sem piada que qualquer outra coisa, VF7 vive dos excessos (ação, drama, thriller), apresentando-se como um objeto de entretenimento descerebrado e derradeiramente telenovelesco, representando um claro retrocesso em relação aos seus antecessores mais recentes – que tinham surpreendido com um estilo heist movie mais vincado, sóbrio e agradável.

Menção desonrosa para The Ridiculous 6 – por provar que Adam Sandler continua a fazer maus filmes em série

Jorge Pereira

Sniper Americano

Filme irrelevante enquanto cinema, mas cujo impacto social justifica a menção. Pode não ser o “pior filme do ano”, mas certamente  o mais perverso. O filme conta a história de um herói célebre por matar centenas de “selvagens”, forma como os iraquianos são aqui referidos. Até aí nada de anormal no cinema de Hollywood, mas onde American Sniper ganha da concorrência, atualmente centrada na demonização de russos e árabes, é na forma truculenta e desavergonhada com que o faz.

No decorrer do filme, sustentados por uma lógica de conto de fadas em que só existem “bons” e “maus”, ficam justificados tiros em crianças e mulheres, espancamentos de idosos, invasão de domicílios, torturas e outras atrocidades. Neste sentido, o filme é histérico na sua tentativa de resgate de um heroísmo militar anacrónico. Pior que isso, chega em péssima hora – num contexto onde a ação fundamentalista de todas as origens e feitios (sejam árabes, judeus, franceses ou norte-americanos) tem sido cada vez mais bem-sucedidos em excitar o primitivismo popular.

Menção desonrosa para The Martian (Perdido em Marte), o corolário do cinema de clichés, personagens de cartão e consensos fáceis.

Roni Nunes

Ascensão de Júpiter

Há muito tempo atrás, os Wachowskis pareciam ligados a uma espécie de profecia que ditava que seriam os escolhidos para levar ao grande ecrã do século XXI um tipo de cinema divergente sob uma nova linguagem visual. Porém, contam-se pelos dedos os êxitos conseguidos pelo duo depois de Matrix.

Em Ascensão de Júpiter o espectador está ciente que a dupla não apresenta nenhuma inovação, criatividade ou ousadia.

Quem aguardava um bom regresso, fica-se com um tremendo flop financeiro e um desastre catastrófico a nível artístico. A reciclagem de material já propagado pelo duo expõe uma tendência quase dependente da técnica visual e sonora, desleixando tudo o resto.

Resumindo, eis um filme piroso, misógino, repetitivo e … esperem aí!. Que raio foi isto afinal!?

Menção DesonrosaA Date with Miss Fortune (Um Encontro com o Destino), por retratar os portugueses como fascistas regidos pelo preconceito esotérico.

Hugo Gomes

A Juventude

Sobre  A Juventude já muito se escreveu, e não exatamente de forma elogiosa. A sensação com que se fica é que este é um daqueles filmes que marca toda uma carreira. Sorrentino, que já com o anterior A Grande Beleza tinha divido paixões, acaba por dar razão aos sues piores detratores: é um realizador francamente incapaz de formalizar as ideias e princípios que dão alguma vida aos seus filmes.

Aqui, o resultado é sofrível ao ponto de abalar as próprias fundações do seu cinema – já não se trata somente de uma execução inconsequente, estamos mesmo perante uma carreira erguida em função de uma atitude parasita. Shame on you, Sorrentino

2015 foi também o ano de American Sniper, um dos filmes menos memoráveis de Clint Eastwood, um realizador ainda para mais com uma carreira já de si sobrevalorizadíssima.

José Raposo

Crimson Peak – A Colina Vermelha

Com uma encenação e desenvolvimento molengões, Del Toro subestima a inteligência do espectador, nunca dando o efeito surpresa prometido. Os irmãos são totalmente expostos no primeiro ato como conspiradores interesseiros, o que arruína o mistério da intriga que se espera no romance gótico. Pela linguagem cinematográfica (os grandes planos em embalagens de uma substância estranha) denuncia, ao fim dos primeiros trinta minutos, toda a restante hora e meia.

Ou olhemos para os ataques de histerismo na personagem de Chastain e para o desempenho adolescente de Wasikowsa… Não é preciso muito para perceber o quão falso tudo a isto soa, tornando questionável o que faz do mexicano um artista e não um comerciante oportunista (afinal, para quê referir Shining e O Exorcista?) a sobrevalorizar o seu papel no mainstream. Um tédio.

Menção desonrosa: Dior e Eu por ser o mais longo e televisivo anúncio publicitário feito a uma marca de moda, vendido sob a forma de documentário.

Duarte Mata

Corre Rapaz Corre

Passando uma imagem inicial de “filme de prestígio” e “baseado numa história real”, Corre Rapaz Corre é o exemplo perfeito de não saber onde parar no que toca a retratos da 2ª Guerra Mundial.

Incomoda a autêntica exploração deste retrato de um menino em fuga dos nazis, mas sobretudo o tom maniqueísta e a auto-culpabilização (o filme é uma produção alemã). Para não ajudar, o passo é lento e a banda sonora é incomodativa, testando os limites da paciência do espectador (que esperava que o filme acrescentasse de facto algo às narrativas da Grande Guerra) a cada esquina.

Menção desonrosa a American Sniper

André Gonçalves

Quarteto Fantástico

É sempre constrangedor ver um filme que é uma total manta de retalhos – e que espelha uma produção complicada, com egos a colidirem e a narrativa a ser refeita em ajustes sucessivos.

O Quarteto Fantástico é um espelho de um realidador que colidiu com o elenco, e de produtores que queria fazer um filme cumprir um prazo: manter os direitos das personagens da Fox e não devolver à Marvel (o estúdio tem de fazer um destes filmes de x em x anos para manter a licença).

O filme começa bem e com um tom fora do usual para um filme de super-heróis – reminiscente de Super 8 e de aventuras mais familiares como nos anos e menos militaristas como a Marvel e a DC agora querem nos filmes. Mas depois é sempre a descer: O Quarteto Fantástico tem saltos na história, personagens que desaparecem, e não tem um terceiro acto – apenas um segundo que se prolonga até aos créditos. Uma lástima: estas são das melhores personagens da Marvel, e têm tratamentos sofríveis no cinema.

Menção desonrosa: Pixels podia ter sido pura diversão, e é apenas mais um sinal que Adam Sandler está acabado.

José Pedro Lopes

A Última Noitada

Existem comédias e depois existem comédias adolescentes fruto de um consumo rápido de cinema, ou melhor, de conteúdos baratos sem qualquer linha narrativa, sendo aqui que A Última Noitada se insere. À partida um elenco com os nomes de Joseph Gordon-Levitt, um dos atores mais versáteis do cinema americano da atualidade, e de Seth Rogen (que sempre dentro do mesmo registo já fez papéis menos sufocantes do que este) pode realçar à vista mas quando se remexe no tema do Natal – sobretudo a quadra que perdeu moralmente muitos dos seus valores -, a idiotice, a balbúrdia e a droga do tipo ’tá-se’, não garantem uma boa experiência.

É pena que este produto seja de Jonathan Levine, realizador do melhor filme sobre cancro dos últimos tempos, 50/50 e como nenhum filme consegue ter o mesmo impacto que Do Céu Caiu uma Estrela ou até de O Amor Acontece. Uma “bro-comedy” péssima que mostra como Michael Shannon também tem talento para mostrar que não o tem.

Menção desonrosa: Certas sequências de Crimson Peak – A Colina Vermelha são tão escusadas, principalmente quando Guilhermo del Toro não mostra ser tão visionário assim.

Virgílio Jesus

Notícias