Quinta-feira, 25 Abril

Autor que inspirou «Evereste» apelida o filme de «grande treta»

Aclamado pela imprensa dos EUA, o mais recente filme de Baltasar Kormakúr, Evereste [ler crítica], encontrou o seu mais rigoroso crítico. O jornalista e um dos sobreviventes da expedição de 1996, Jon Krakauer, caracterizou o filme como uma «grande treta», na revista Outside.

Em causa está o facto de  o retrato da história não corresponder ao livro da sua autoria, Into Thin Air, escrito um ano depois da tragédia e convertido num best-seller. Os direitos do livro foram vendidos logo no ano da sua publicação, tendo originado nesse mesmo período um telefilme, também ele desprezado por Krakauer. O autor revelou que até aos dias de hoje amaldiçoa o dia em que foi convencido a vender os respectivos direitos: «As pessoas diziam-me: ‘Há filmes que nunca são feitos. Aceita o dinheiro. O que é que tens a perder?. Amaldiçoo-me por os ter vendido [os direitos]. Aquilo que aprendi do telefilme foi que as fitas usam liberdade dramática e depois de assinar um documento, praticamente tudo se pode fazer. Sinceramente, o dinheiro que ganhei não me valeu de nada».

Para Krakauer, o filme de Kormakúr tomou demasiadas liberdades criativas e a sua personagem (interpretada por Michael Kelly) não condiz com a realidade.


Evereste

Numa entrevista à Los Angeles Times, o escritor revelou que várias das conversas da sua personagem foram fabricadas, salientando que ficou sobretudo revoltado com um determinada cena em que se recusa a participar nas tentativas de salvamento. Krakauer referiu que tal cena nunca acontecera e explicou que as condições atmosféricas desses dias eram tão adversas que nem os xerpas (a etnia que existe nas regiões mais montanhosas do Nepal, que fora o ponto de partida para a expedição, e que facilmente adaptam-se ao respetivo meio ambiente) se atreveram a ir na missão de resgate.

Kormakúr respondeu ao jornalista através de um depoimento, onde argumenta que tal sequência servia como exemplo do quanto desesperante era a situação vivida, ilustrando a impotência daquelas pessoas perante as forças da Natureza, acrescentando ainda que a sua intenção não era insinuar algo ou ofender alguém.

Porém, Krakauer defendeu uma das ideias do filme. Em Evereste o que estava sobretudo em causa não era a superação pessoal, mas o turismo, e o envolvimento de uma grande revista na expedição poderá ter levado Rob Hall (interpretado por Jason Clarke) a cometer maiores riscos, para si e para toda a sua equipa: «Em Evereste não há alpinismo a sério. São pessoas ricas a escalar. Tudo se baseia num troféu de parede e pronto. Estou a falar a sério quando digo que desejava nunca ter ido para lá.»


Into the Wild (O Lado Selvagem, 2007)

Todavia, nem todas as experiências cinematográficas foram «traumatizantes» para Krakauer. Outra adaptação de um dos seus trabalhos, originou, segundo ele, uma verdadeira obra-prima cinematográfica. A obra em questão foi Into the Wild (O Lado Selvagem, 2007), dirigido por Sean Penn e protagonizado por Emile Hirsch, que ilustra a jornada de Christopher McCandless, um jovem ansioso por abandonar todos seus vínculos para seguir ao reencontro da perfeita e minimalista felicidade. O destino encontrado foi o Alasca, local onde McCandless faleceu, vitima de envenenamento devido a uma confusão entre bagas. “Quando ele me mostrou a montagem em bruto, só me apetecia beijá-lo. Estava radiante.”, afirmou Krakauer.

Evereste não será a única produção baseado em trabalhos de Krakauer a estrear este ano. O documentário Prophet’s Prey, de Amy Berg (West of Memphis), é baseado numa investigação do jornalista ao Sam Brower para desvendar os segredos da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo de Latter-Day Saints, em particular a ascensão do seu profeta, Warren Jeffs, que tem construído um verdadeiro «reino» de controlo e de influência. Seguindo por milhares de fieis, capazes de sacrificar as suas respectivas vidas em prol das palavras do sacerdote, Jeffs também concentra uma história de casamento poligâmico com menores de idade, para além das acusações de violação, manipulação e abusos de poder.

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