Sexta-feira, 26 Abril

7 razões porque «Saul fia» (Son of Saul) merece ganhar a Palma de Ouro

 

Falta pouco para conhecermos o vencedor do prémio máximo do Festival de Cannes, a tão cobiçada Palma de Ouro. Será Carol de Todd Haynes? Mountains May Depart de Jia Zhang-Ke? The Assassin, de Hou Hsiao-Hsien? Por enquanto o nosso preferido para a Palma não é nenhum dos referidos, mas sim o drama ambientado na Segunda Guerra Mundial, Saul Fia (Son of Saul).

Dirigido pelo estreante Lászlo Nemes, Saul Fia revela-nos um outro olhar ao Holocausto, onde num campo de concentração, um grupo de judeus é obrigado a efetuar trabalhos “sujos” ao serviços dos Nazis. No seio disto encontramos Saul (Géza Röhrig), que tal como os seus “colegas” pretende sobreviver o máximo de tempo possível. Porém, um acontecimento vai marcá-lo para sempre, determinando-o a arriscar a sua própria vida pelo que julga ser o mais correto a fazer.


Lászlo Nemes

 

Com base nesta aposta, o C7nema elaborou as sete razões pelo qual Saul Fia merece o prémio nesta 68ª edição do Festival de Cannes.

01Holocausto sem clichés

Nos dias de hoje é difícil concretizar uma produção sobre o Holocausto que consiga fugir dos lugares-comuns da temática. A verdade é que também não existe muito por onde fugir e a liberdade criativa é frequentemente mal vista neste tipo de filmes, tudo porque o seu lado verídico parece sustentar-se em “território sagrado”. Tal também acontece com exercícios de maniqueísmo. Saul Fia é talvez dos poucos filme decorridos nesse período negro que tem a proeza de contornar grande parte dessas “minas”. Quem esperará pelos clichés habituais, pode sair desapontado.

02Os horrores são do passado, mas os ecos prevalecem

Saul Fia tem a proeza de expor as bestialidades cometidas na Segunda Guerra Mundial de um jeito aquém do gratuito. Aliás, o seu ponto forte é o constante recurso ao efeito sugestão (o som é uma das formas). É que o espectador tem a consciência de que os horrores decorrem na sala ao lado e que a qualquer momento tais poderão atingir o protagonista. A carga psicológica e a atmosfera tenebrosa que paira em todo este filme não seriam possíveis se László Nemes optasse em demonstrar o inevitável. Ao invés disso é uma câmara “míope” que nos acompanha nesta jornada às profundezas do Inferno.

03Finca-se no realismo

O realismo fincado e tecnicamente possível de Saul Fia leva-nos ao encontro da face mais negra do ser humano. Não existe qualquer teor hollywoodesco nem sequer a manipulação auferida pela banda sonora pomposa, ou qualquer tipo de melodia. A câmara de Lászlo Nemes não desafia essa realidade, limita o olhar do espectador, mas nunca a sua imaginação.

04Não esquece que acima de tudo somos  humanos

Até quando tudo parece estar perdido e o homem transforma-se numa simples máquina, Saul Fia revela-nos que mesmo nos piores cenários e sem qualquer fio de esperança é possível praticar qualquer gesto de compaixão, mesmo com um desconhecido. Afinal é isso que nos tornam seres humanos.

05É uma primeira obra

Esta razão pode também ser o maior “inimigo” de Lászlo Nemes, visto esta ser a sua estreia nas longas-metragens e um galardão tão cedo poderá desmotivar o desenvolvimento criativo do realizador. Contudo, um festival que normalmente nos últimos anos premeia obras de realizadores de renome, um primeiro filme laureado com a Palma seria uma lufada de ar fresco, motivando novos nomes a surgirem na Competição Oficial em futuras edições.

06A sua narrativa é emocionalmente desconcertante

Uma câmara que se “cola” ao protagonista, mas que gradualmente se emancipa deste, e uma narrativa composta por inúmeros planos de sequência salientam a força das personagens não como seres individuais, mas como uma massa coletiva. Nisto aumenta-se um climax calculado e perturbador no decorrer dos atos. Para além do mais, é este tipo de narrativa que torna a encenação tão credível.

07“A Banalidade do Mal” de Hannah Arendt

Já que falamos na humanidade de Saul Fia, vale a pena salientar a sua ambiguidade. Tal como a filosofa alemã  referiu na sua “A Banalidade do Mal“, quando o vazio das mentes tornam estas aptas para gestos de violência. Um dos exemplos de que o maniqueísmo não é o forte desta estreia de Lászlo Nemes, e ainda bem!

 

 

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