Quinta-feira, 25 Abril

Cannes suspira com o chocante relato do tráfico sexual de «Las Elegidas»

O Festival de Cannes “abanou” hoje com a exibição de Las Elegidas, o filme que poderá colocar David Pablos como um dos mais incisivos cineastas mexicanos da atualidade. A sua estreia no certame ficou marcada por manifestações variadas por parte do público. Se durante o visionamento, os gritos e suspiros tornaram-se lugares comuns, o final foi rompido por imensos aplausos por uma sala apinhada para assistir à obra que se encontra na Un Certain Regard.

Não é todos os dias que se encontra um filme que nos choca com a sua abordagem direta, ao mesmo tempo ambígua de um tema tabu. Se antes do Festival corriam noticias de que Governo Mexicano pagou à produção do próximo filme de James Bond, para que as cenas rodadas na Cidade do México não denegrissem a imagem do país para o Turismo, Las Elegidas (The Chosen Ones) dispõe-se como um anti-roteiro de viagens.

Pablos convida-nos a entrar no submundo da prostituição infantil, um tema polémico e um negócio que tem aumentado estrondosamente nos últimos anos, colocando-se lado a lado com o turismo direcionado para o país. Será coincidência? Las Elegidas despe-se dos lugares-comuns já percorridos e aborda os dois lados do tráfico. Por outras palavras, seguimos a vítima e ao mesmo tempo o opressor.

Em declarações em Cannes, o cineasta explicou que o projeto nasceu inicialmente de uma colaboração com o escritor Jorge Volpi. «Apanhados pelo tempo» tiveram de terminar a colaboração, partindo ele mesmo para a pesquisa a solo «sobre o tráfico de seres humanos para chegar a uma história nova». Segundo ele, nunca houve a «intenção de fazer uma adaptação literal das coisas».


Equipa do filme – Photocall – Las Elegidas (The Chosen Ones) © FDC / Théophile Delange

A verdade é que o filme conduz-nos a um poderoso e corajoso retrato social desunido de esperança, mas com uma clara tendência de denúncia em relação mundo, expondo os seus processos operativos e apresentando o perfil das vitimas e como são escolhidas pelos criminosos locais. A ausência de inocência  revolta profundamente.

Para além disso, o realizador soube contornar o choque imediato, induzindo um poderoso efeito de sugestão que enojou profundamente a audiência. O triste é que neste mundo, assim como no trabalho de Pablos, não existem heróis de última hora. Existe sim, a melancolia e a conformação com o infortúnio.

Um dos filmes choque do certame.

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