Quinta-feira, 25 Abril

Roberto Rossellini em destaque no Espaço Nimas e Teatro Municipal do Campo Alegre

 

Poucos meses após a reposição de filmes de Satyajit Ray e no decorrer do sucesso de ciclos semelhantes a Bergman, Ozu ou Carax, a Leopardo Filmes / Medeia Filmes traz às salas dez aclamados trabalhos do cineasta italiano Roberto Rossellini. Trabalhos esses restaurados meticulosamente e que conferem um novo olhar e uma sensibilidade acrescida a pelo menos parte da sua carreira.

Entre 26 de março e 29 de abril, no Espaço Nimas e a partir de 2 de abril no Teatro Municipal do Campo Alegre, os horários são fixos e as exibições decorrem em diversas sessões ao longo do dia. São eles O Amor (exibido em junção com A Força e a Razão); Roma, Cidade Aberta; Stromboli; Alemanha, Ano Zero; Europa 51; O Medo; Paisá – Libertação; Viagem em Itália; A Máquina de Matar Pessoas Más e Índia.

Amor, é um dos seus trabalhos mais subvalorizados e desconhecidos. Dividido em dois episódios, Uma Voz Humana e O Milagre, é totalmente representado por Anna Magnani (o filme, como se diz na dedicatória inicial, “é um tributo à sua arte”). O primeiro, baseado numa peça do realizador Jean Cocteau, é um retrato doloroso do sentimento, através de um longo monólogo ao telefone após a personagem de Magnani ter sido abandonada pelo amante. Quanto ao segundo, sobressai o alienismo e o amor maternal, que advém depois de uma louca ter sido engravidada por um (possivelmente) falso santo, representado por Fellini (sim, esse Fellini). Esta obra é exibida em conjunto com A Força e a Razão, entrevista que Rosselini fez ao deputado chileno Salvador Allende e realizada por Emidio Grego, estreada pouco tempo depois do político ter sido assassinado.

Será também exibida a célebre “Trilogia da Guerra“, constituída por Roma…, Paisá… e Alemanha…, todos eles uma mistura entre o melodrama e o documentário (fusão que mais tarde se veio a chamar de neorealismo italiano, e por isso Rossellini é considerado um dos seus pais). Utilizando um elenco e uma equipa não profissional, e filmando sempre em cenários reais, todos eles constituem um registo do desrespeito e medo sentidos no pós-guerra em Itália (nos dois primeiros casos) e na Alemanha (no último). Todos os três são os clássicos do realizador e vieram a influenciar uma grande diversidade de cineastas, como Martin Scorsese, Elia Kazan e o movimento da Nova Vaga Francesa.

Estão também presentes quatro das cinco colaborações com a atriz sueca Ingrid Bergman. Um affair sempre rodeado de polémica, à frente e atrás das câmaras, que se iniciou com uma carta de amor por parte da atriz, «Se precisar de uma actriz que saiba falar bem inglês (…) e que em italiano só saiba dizer “ti amo”, estou pronta para partir e fazer um filme consigo».

O primeiro deles e o que marcou o início à colaboração, Stromboli, retoma alguns dos aspectos neo-realistas da obra do cineasta, colocando Bergman na ilha homónima, numa intriga que envolve o ostracismo forçado por parte dos habitantes da mesma e um vulcão que entrou, de facto, em erupção no decorrer das filmagens. Filme maldito aquando da sua estreia, veio a ser considerada uma das obras-primas do mestre italiano com o decorrer dos anos.

Seguem-se O Medo e Viagem em Itália, filmes gémeos, que expõem um matrimónio em deterioração, influenciado por factores externos (no caso do primeiro, uma chantagem relativa a um caso extra-conjugal e no segundo, na odisseia do título). O último é para muitos a derradeira obra-prima do cineasta e é hoje considerado um dos maiores filmes da história do cinema. Está também presente Europa 51, alegoria religiosa vagamente inspirada em Francisco de Assis, que coloca uma mulher da alta sociedade, após a trágica morte do filho, com uma perspectiva marxista e solidária da comunidade que a rodeia.

Os últimos do ciclo a serem exibidos serão A Máquina de Matar Pessoas Más e Índia. O primeiro abordando questões de moral religiosa, através de uma comédia fantasista onde um fotógrafo ganha do Diabo uma câmara com a capacidade de eliminar o mal e o segundo um documentário em quatro episódios sobre o país homónimo.

As restaurações digitais, à exceção de Europa 51, que é exibido no formato 35 mm, foram efetuadas pela Cinecitta Luse, CSC – Cineteca Nazionale, Cineteca di Bologna e Coproduction Office. O programa pode ser consultado em detalhe aqui.

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