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Filme sobre a infância de Maomé prestes a estrear no Irão (e com críticas)

Está prestes a estrear no Irão ‘Muhammad, Messenger of God’, o maior projeto cinematografico de sempre elaborado no território e que apresentará a infância e adolescência do profeta, o qual só surgiu nos cinemas, em termos de grandes produções, na película Maomé – O Mensageiro de Deus (1977), de Moustapha Akkad: «Enquanto existem uns 250 filmes sobre Jesus, 120 sobre Moisés, 80 sobre outros profetas e 40 sobre Buda, apenas existe Maomé – O Mensageiro de Deus sobre a vida do profeta», afirmou o realizador Majid Majidi ao site Last Prophet.

Majidi, multipremiado por filmes como O Pai (1997) [vencedor do Golfinho de Ouro no Festroia] e Baran (2001), desenvolve este projeto há cinco anos, o qual nasceu devido ao incremento da islamofobia e da necessidade que o cineasta teve em reagir a esse crescendo de ódio contra os mulçumanos: «O que eu queria fazer era envolver-me numa “leitura” real do Islão e contar a história do Profeta aos muçulmanos e ao Mundo. Queria narrar o verdadeiro Islão, distanciando-o da dureza e do terror. O Islão é a religião da misericórdia e se tivéssemos que o resumir em uma única frase, o Islão é a religião do amor e do afeto».

Documentos históricos e factos foram compilados com a ajuda de estudiosos, arqueólogos, historiadores e clérigos sunitas e xiitas de diferentes países, incluindo o Irão, Marrocos, Tunísia, Líbano, Iraque e Argélia. O guião foi escrito pelo próprio Majidi em colaboração com Kambuzia Partovi, o argumentista de filmes como O Círculo (2000), de Jafar Panahi.

Filme não escapa à polémica


Uma cena do filme Muhammad, Messenger of God

Como seria de esperar, Muhammad, Messenger of God’ não apresentará uma representação do rosto de Maomé, contando para isso com a «magia» do conhecido diretor de fotografia Vittorio Storaro, vencedor de 3 Oscares por O Último Tango em Paris, Apocalipse Now e O Último Imperador. Segundo a imprensa iraniana, o italiano trabalhou em várias combinações de luz e escuridão para fazer as representações religiosas no filme.

Mas mesmo contando com o apoio do Aiatolá Ali Khamenei, que tem a autoridade máxima no Irão e que chegou mesmo a visitar o local das filmagens em 2012, o projeto tem sofrido várias críticas, em particular vindas do Egito, mais propriamente da universidade de Al-Azhar, uma das mais influentes instituições teológicas do islamismo sunita, a qual critica a representação do profeta por «negligenciar o seu prestígio espiritual». Esta instituição acrescenta que a proibição da representação do profeta não deve ser limitada apenas ao rosto, mas também à sua aparência física e à voz. Já as escolas de pensamento xiitas vão em oposição a esta posição e dizem que não existe nenhuma proibição específica em apresentar o profeta em filmes.

Outras críticas surgiram do Qatar, país que lançou igualmente a produção de um filme «rival», o qual contaria com um orçamento astronómico (centenas de milhões de euros) e a produção de Barrie Osborne (O Senhor dos Anéis, Matrix).

Tentando fugir às polémicas, Majidi frisou insistentemente em várias entrevistas que o filme mostra o período antes de Maomé tornar-se o profeta, não havendo assim controvérsias que choquem com os pontos de vista xiitas e sunitas.

Uma Mega Produção


AR Rahman, Majid Majidi e o Le Trio Joubran

Fala-se num orçamento em torno dos 35 milhões de dólares, o que para um filme “destas paragens” é uma exorbitância. Ao que consta, e segundo relatos de diversos meios iranianos, foram construídas no sul de Teerão, perto da cidade sagrada de Qom, réplicas gigantes de cidades sauditas, de Meca e Medina. Vários momentos do filme, que terá cerca de 190 minutos e que se diz ser o primeiro de uma trilogia, foram filmados na África do Sul, isto após a Índia se recusar a permitir as filmagens no seu território.

Para além de Vittorio Storaro trabalhar na cinematografia, a equipa iraniana de filmagens contou ainda com a contribuição de Scott E Anderson (Exterminador Implacável 2) para os efeitos visuais e do colaborador frequente de Emir Kusturica, Miljen Kreka Kljakovic (O Tempo dos CiganosUnderground) no design da produção.

Já no que diz respeito à banda-sonora, AR Rahman (Quem quer ser Milionário) colaborou com o Le Trio Joubran, um grupo que toca musica tradicional palestiniana recorrendo ao oud. Fala-se também que o anglo-iraniano Sami Yusuf contribuiu musicalmente.

Estreia adiada

Inicialmente, Muhammad, Messenger of God’ iria ter a sua estreia no passado dia 1 de fevereiro na 33ª Edição do Festival de Cinema de Fajr, em Teerão. Porém, problemas técnicos ligados ao áudio do filme impediram essa projeção. Já hoje, a agência ISNA adiantou que a fita foi exibida para um grupo seleto de cineastas, jornalistas e críticos de cinema na passada quinta-feira.

Comercialmente, o filme será exibido no território no mês de março, estando também agendada, posteriormente, a sua exibição internacional, estando programadas versões em persa, árabe e inglês..