Quinta-feira, 28 Março

“Caché” por André Gonçalevs

Sinopse

George, jornalista literário, recebe vídeos – filmados clandestinamente a partir da rua – em que aparece com a família, assim como desenhos perturbadores e difíceis de interpretar, e não faz a menor ideia da identidade do remetente.

Pouco a pouco, o conteúdo das cassetes vai-se tornando cada vez mais pessoal, o que leva a pensar que o autor o conhece há muito tempo.

George sente que uma ameaça paira sobre si e a sua família mas, como não é explícita, a polícia recusa-se a ajudá-lo…

Elenco

Daniel Autueil, Juliette Binoche

Realizado por Michael Haneke

Crítica

“Caché” é o regresso aguardado do polémico Michael Haneke (realizador de filmes como “Funny Games” e “La Pianiste”), que arrecadou com este filme o prémio de melhor realizador no mais recente Festival de Cannes. O realizador, que estudou Filosofia e Psicologia antes de se dedicar à sétima arte, sempre teve um talento especial para demonstrar o lado mais obscuro da natureza humana, incomodando, chocando e mexendo com as emoções do espectador – e esta película não foge à regra de filmes anteriores. Dizem que é o filme mais “acessível” do realizador até à data – eu não acho que possa ser considerado de “acessível” ou consensual: os planos parados são frequentes (servindo para brincar com o espectador a propósito das gravações, criando uma sensação de paranóia constante ao longo do filme) e o filme desenvolve-se a um ritmo lento (que só contribui para o crescendo de tensão, acrescente-se)… e o final…bem, continua a não ser um filme para todos os gostos, concluindo.

Haneke agarrou-me logo desde que o primeiro vídeo é mostrado (ou seja, desde o primeiro minuto) é à medida que a intriga vai-se tornando cada vez mais sufocante – culminando com um dos momentos mais chocantes da história do cinema recente (ao bom estilo do realizador austríaco), a verdadeira temática do filme começa a vir ao de cima – uma alegoria política à guerra entre os franceses e os argelinos misturada com uma crítica implícita ao poder manipulativo da imagem e a sua influência na realizade em que vivemos (o próprio Haneke afirma desconfiar da pretensa realidade que invade os media todos os dias…). Tanto Daniel Autueil como Juliette Binoche estão magníficos no papel do casal que recebe as misteriosas cassetes anónimas (juntamente com um desenho bastante… estranho) e vai aos poucos colapsando emocionalmente.

O realizador volta mais uma vez a pregar uma partida ao espectador com um final que me deixou (mais uma vez) desnorteado… e tal como o desfecho de “La Pianiste”, só o tempo me levará a concluir se este “Caché” terminou da melhor maneira ou não (mas dou-lhe o benefício da dúvida desta vez, pois é bem provável que consiga apreciar melhor este desfecho com um revisionamento, tal como aconteceu com “La Pianiste”…). Por enquanto, fica a certeza (para quem ainda duvidava) de que Haneke é de facto um dos melhores cineastas europeus em actividade e merece todos os elogios que tem vindo a arrancar, assim como os dois actores principais. 8/10 …. André Gonçalves

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